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  • 10 de Agosto, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

A fé, o proselitismo e a delinquência

Só o espírito totalitários das religiões, com mais ou menos conteúdo político associado, pode negar o direito de cada cidadão a qualquer crença, à descrença ou à anti-crença.  A liberdade religiosa é um direito consagrado na Constituição da República Portuguesa e na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Pô-lo em causa é crime e um caso de polícia de for usada a violência.

Qualquer indivíduo pode acreditar na fábrica celeste que cria Anjos da Guarda pessoais, companhias que perseguem, invisíveis e distraídas, todos os mortais, que há virgens que saltitam nas azinheiras ou aparecem em grutas e que as orações são as prestações de um bilhete para o Paraíso. O que não pode é obrigar outros a comprar a passagem para um destino em que não acredita e para o qual não é emitido recibo nem indicado o meio de transporte.

Não importa que haja quem creia nas propriedades terapêuticas da água benta ou nas virtudes de uns sinais cabalísticos para transformarem no corpo de Cristo as rodelas de pão ázimo. O que não podem é impor aos outros as crenças com que foram intoxicados, nem o sistema de crenças que cada religião explora.

O ódio dos fundamentalistas é mais irracional do que a fé que praticam. Não os satisfaz o caminho do Paraíso, exigem que os outros os acompanhem. Tornam-se autómatos nas aulas de catequese, embrutecidos pelo medo do Inferno e da cólera do deus que o clero lhes impinge. Depois, parecem feras à solta a insultar incréus, a impedir a liberdade de expressão e a congeminarem vinganças enquanto ruminam ave-marias e salve-rainhas.

São assim os talibãs dos três monoteísmos abraâmicos.

21 thoughts on “A fé, o proselitismo e a delinquência”
  • Fgf

    Carlos, o taliban jacobino e filhote de Robespierre e Danton!!!

  • Sales

    «…negar o direito de cada cidadão a qualquer crença, à descrença ou à anti-crença. A liberdade religiosa é um direito consagrado na Constituição da República Portuguesa e na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Pô-lo em causa é crime e um caso de polícia de for usada a violência.» – Carlos Esperança.

    Na DUDH institui-se o direito à crença e à não crença, mas não à anti-crença.
    A anti-crença e a anti-descrença (ou anti não crença), são condenados em todo o tratado, como todos os tratados internacionais.

    O respeito pela crença dos outros tem que ser igual ao respeito pela não crença dos demais.
    Anti-crença ou anti-descrença pressupõe luta, combate, afronta, etc.
    Lutar contra isso, no sentido de pugnar pelo respeito mutuo entre todos, é o verdadeiro objectivo da DUDH, da toda a ONU e de todo o direito internacional.

    Infelizmente, este blogue é contrário a tudo isto, em clara afronta à DUDH e demais tratados.

    Este post, por exemplo, é uma ofensa grave para a DUDH, para os esforços de paz da ONU e de muitas agencias multinacionais.
    É altamente insultuoso e desrespeitador da cultura, da religião e do respeito que merece a crença (ou a descrença) de cada pessoa em particular.

    Trata-se de uma falta de educação, de formação cívica e de cultura, de uma provocação gratuita, aviltante e injustificada a todos os crentes, enxovalhando a sua crença e vilipendiando o que lhes merece respeito.

    Não pode o autor, fraudulenta e hipocritamente, invocar a DUDH para fins contrários àqueles que lhe estão na base.
    Tal como não pode pedir respeito, tolerância ou compreensão a uma grande faixa da humanidade que aqui vê insultada a sua crença, os princípios da sua religião e da sua forma de vivência daquilo que tem como sagrado, e que, neste post são vil e cobardemente enxovalhados com o ódio de alguém que não sabe respeitar os demais, conviver num sistema pluralista, livre e democrático, nem e tem uma cultura de vivência pacifica, ordeira e responsável.

    É lamentável (senão criminalmente condenável) esta provocação, este insulto generalizado a todos crentes (por via da sua crença e dos seus objectos de culto), perpetrados de um forma que se pode considerar do mais boçal e indecente insulto, para além que nada ficar a dever ao terrorismo que se alimenta do fanatismo (seja ele de crentes, como de não crentes deste tipo).

    Solidarizo-me com os crentes aqui atingidos desta forma vil, cobarde e vexatória, na certeza de que os visados são vítimas da intolerância de fanáticos e fundamentalistas que formam seitas dentro das religiões e dentro dos ateus, como aqui fica provado.

    Não percebo como é possível que um Estado de Direito, como Portugal pretende ser, tolere um blogue como este, que desfia todo o espírito do Direito nacional e internacional, onde se cultiva o ódio (e por sua via a incitação à insegurança e à violência), o insulto, o desrespeito pela cultura, pela crença e pelas convicções e práticas ideológicas das pessoas.
    Trata-se de uma afronta rude, fascizante e macabra àquilo que deve nortear o comportamento responsável de pessoas adultas, sãs, bem formadas e instruídas, com capacidade de viver em liberdade, concórdia e aceitação mútua de quem, não pensado da mesma forma, tem direito ao respeito da sua pessoa e da sua cultura.

    Estes actos caracterizam o carácter, a formação e a cultura das pessoas que os perpetram.

    Repito: em nenhum tratado internacional (nem nos sistemas jurídicos dos países do ocidente) está consagrado o direito à anti-crença.

  • Mmarcio M

    Brilhante como sempre, Carlos Esperança.
    Vocês da AAP poderiam me indicar alguma associação ou blog ateista aqui no Brasil?

  • antoniofernando

    Sales:

    Sou crente mas não lhe passei procuração para me incluir na sua suposta indignação. Do meu ponto de vista, está a empolar injustificadamente uma adjectivação menos feliz do Carlos Esperança , na parte em que ele se referiu à ” anti- crença”. Seja como for, já não o vi a si tão pressuroso a verberar outros comentários insultuosos de outros crentes que por aqui andam a ajavardar o diálogo sempre que a temática não lhes agrada…

  • Fgf

    o direito da anti-crença inclui não crer na versão oficial do holocausto e do 11/9

  • antoniofernando

    O tempo em que uma camarilha ideológica de extrema- direita, com muitos interesses económicos a defender, se quis apropriar do Catolicismo, está a findar. O Cristianismo, devem-se ter esquecido os seus mentores ideológicos, não é susceptível de apropriação privada, nem está à venda. Nesta vida nem tudo se compra. Deus e Cristo não estão em cotação bolsista apesar de não andarem pelos céus de avião a jacto particular … 🙂

  • Carpinteiro

    «O ódio dos fundamentalistas é mais irracional do que a fé que praticam. Não os satisfaz o caminho do Paraíso, exigem que os outros os acompanhem. »

    É esse o perigo que representam para a sociedade.
    Devem por isso ser motivo de estreita vigilância

  • MO

    António:

    É verdade o que diz, que há por aqui crentes que recorrem ao insulto e ao julgamento e não contribuem para o debate. Mas isso não tira a razão a Sales em relação a este post. Não me parece que ele esteja a exagerar.

    Conheço muitos ateus que não se reconhecem neste discurso do Carlos – e que não se sentem representados por este blogue ou pela AAP. É que a maior parte dos posts não são ateístas, são anti-teístas ou anti-religião. Sente-se ódio nestes textos. Um ódio só comparável ao dos fundamentalistas, os que já se desligaram do mistério para chegarem a certezas, para confundirem o seu determinação cega do seu ego com a vontade de Deus.

    Pax et bonum.

  • MO

    António:

    É verdade o que diz, que há por aqui crentes que recorrem ao insulto e ao julgamento e não contribuem para o debate. Mas isso não tira a razão a Sales em relação a este post. Não me parece que ele esteja a exagerar.

    Conheço muitos ateus que não se reconhecem neste discurso do Carlos – e que não se sentem representados por este blogue ou pela AAP. É que a maior parte dos posts não são ateístas, são anti-teístas ou anti-religião. Sente-se ódio nestes textos. Um ódio só comparável ao dos fundamentalistas, os que já se desligaram do mistério para chegarem a certezas, confundindo a determinação cega do seu ego com a vontade de Deus.

    Pax et bonum.

  • MO

    O que é preciso é vermo-nos uns aos outros, realmente vermo-nos. É o mais difícil. É preciso tentar.

    Pax et bonum.

  • antoniofernando

    MO:

    Obrigado pela sua resposta.Não devemos, do meu ponto de vista, cair no exagero de dividir o mundo em ” bons” e ” maus”. Todos erramos,a começar por mim. Também acho que o Carlos Esperança, por vezes, exagera no seu tom sarcástico, mas não sinto que o faça por ódio como afirma. Se fossemos a afirmar esse postulado, então deveríamos, para ser justos, de percorrer todos os comentários, que aqui são produzidos por crentes e ateus e avaliar imparcialmente quem exagera ou não na medida.Neste texto do Carlos, também há passagens que me merecem críticas. Não só essa que refere sobre a ” anti-crença” mas também o ponto em que fala genericamente do ” espírito totalitário das religiões”. Sempre houve em todas as religiões pessoas de Bem e pessoas de Mal. Não é uma questão que tenha a ver com a religião em si, mas, a maior parte das vezes, com as distorções e perversões que, em nome dela, são feitas. Será que, por exemplo. a maioria dos muçulmanos se revê na lapidação de mulheres adúlteras ? Mas, no essencial, concordo com o texto do Carlos Esperança. Se nós crentes não reconhecermos razão no outro quando o outro a tiver o que é que andamos aqui a fazer ? Se os ateus não forem capazes de ser equilibrados e justos nas suas abordagens críticas onde fica então a validação ética das suas condutas ?. Os conceitos do Bem e do Mal, do Justo e do Injusto não são exclusivamente teístas. Todas as pessoas bem formadas e de bom carácter sabem intimamente o que é correcto ou incorrecto. Todos temos que aprender com todos e a ideia de Fraternidade entre os seres humanos, que, por ela, pugnem,independentemente das suas crenças ou descrenças, é um Bem que devemos prosseguir, mesmo e sobretudo se tivermos que esconjurar os nossos demónios interiores…

  • MO

    Obrigado, António. Não disse que o Carlos era mau (ou que eu era bom). Sou um pecador como todos os seres humanos, excepto Maria. Tento e falho. Tento outra vez. Apontei apenas um caminho.

    Se há muitas pessoas religiosas que não são fraternas e caridosas essa não é uma boa razão para um ateu fazer o mesmo. Ou talvez seja. Não sei, porque não sou ateu.

    Falei do coração. Vejo muito pouco amor e atenção ao outro na maior parte destes posts.

    Pax et bonum.

  • antoniofernando

    MO:

    Conhece certamente a conhecida frase de Bertolt Brecht: ” do rio que tudo arrasta todos dizem violento, mas não das margens que o comprimem.

    Tenho, para mim, posso estar errado, que a maior parte dos que se afirmam ateus são crentes ressabiados. Um verdadeiro ateu, como o grande Carl Sagan, por exemplo, sempre foi um homem afável e cordato…

  • Zeca-portuga

    È difícil fazer um fundamentalista (como o sr. Esperança) perceber que o ódio que vomita e a forma insultuosa, bárbara, patológica e irracional com que compõe as suas redacções, são a origem das desavenças e das respostas menos “calmas” que os crentes lhe dão.

    Algumas afirmações do sr. Esperança são de tal forma violentas, agressivas, graves, odiosas e repugnantes que não podem deixar os crentes que por aqui passem, sem se indignar ou passivamente calados.

    È claro que as redacções do sr. Esperança não retratam de uma questão de ateísmo, mas de falta civismo, educação e cultura, aliadas a uma personalidade doentia, um carácter afectado patologicamente, a um deficit de integração social e cultural, pra além de uma avançada degradação do auto-controle por via de algum recalcamento que redonda num escalda de ódio e violência mal dissimulada.

    A violência das agressões verbais e psicológicas aos crentes e elementos de culto de algumas religiões (sobretudo a Igreja Católica), aqui vertidos pelo Sr. Esperança, justificam e legitimam todas as opiniões menos contidas dos crentes, cujas respostas são milhares de vezes menos causticas do que as afirmações mal-intencionadas e absurdas deste sr.

    Não restam duvidas de que as redacções do sr. Esperança, como presidente da Tasca Ateísta, são a melhor prova daquilo que os ateístas são!!!!!!!!

  • Zeca-portuga

    Faltou o comentador Sales dizer que:

    A Constituição da República Portuguesa reconhece as religiões e atribui-lhes legitimidade de exercício no território nacional (à semelhança quase todos os países do Ocidente).

    Porém, a Constituição da República Portuguesa não reconhece nenhum movimento ateísta nem confere qualquer importância a uma ideologia ateísta, como entidade de facto, no territorial nacional.

    Ou seja: as religiões estão constitucionalmente reconhecidas enquanto o ateísmo é um fenómeno marginal (e, neste caso, de marginais), cujo texto constitucional não legitima.

    Lendo as redacções do sr. Esperança, qualquer pessoa percebe porquê!

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  • Anónimo

    A Constituição da República Portuguesa não reconhece nenhum “movimento ateísta” nem nenhuma confissão religiosa em específico em relação às demais, veja-se:

    “Artigo 13.º
    Princípio da igualdade
    1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
    2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
    (…)
    Artigo 41.º
    Liberdade de consciência, de religião e de culto
    1. A liberdade de consciência, de religião e de culto é inviolável.
    2. Ninguém pode ser perseguido, privado de direitos ou isento de obrigações ou deveres cívicos por causa das suas convicções ou prática religiosa.
    3. Ninguém pode ser perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa, salvo para recolha de dados estatísticos não individualmente identificáveis, nem ser prejudicado por se recusar a responder.
    4. As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto.
    5. É garantida a liberdade de ensino de qualquer religião praticado no âmbito da respectiva confissão, bem como a utilização de meios de comunicação social próprios para o prosseguimento das suas actividades.
    6. É garantido o direito à objecção de consciência, nos termos da lei.
    (…)
    Artigo 46.º
    Liberdade de associação
    1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei penal.
    2. As associações prosseguem livremente os seus fins sem interferência das autoridades públicas e não podem ser dissolvidas pelo Estado ou suspensas as suas actividades senão nos casos previstos na lei e mediante decisão judicial.
    3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação nem coagido por qualquer meio a permanecer nela.
    4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.”

    Ou seja, quer a crença e quer a descrença, têm a mesma dignidade e enquadramento constitucional, não sendo possível favorecer ou prejudicar uns em detrimento dos outros, e a forma como o Estado regula o quadro legal e a sua acção nos espaços públicos frequentados por vários cidadãos de diferentes quadrantes é através da neutralidade, conferindo aos restantes, quer associações e quer religiões, o direito de se formar, reunir e expressar.

  • Anónimo

    Caríssimo Sales:

    Permita-me duas perguntas.

    O que pensa do facto da Igreja Católica ter organizado em 13 de Maio de 2008 uma peregrinação a Fátima contra o ateísmo na Europa?

    O que pensa da pena de morte para apostasia no Islão (ainda praticada em alguns países)?

  • Carpinteiro

    Mmarcio

  • Anónimo

    Caro Carlos Esperança, permita-me dar-lhe os parabéns por mais uma excelente crónica.
    Já agora, gabo-lhe a pachorra para aturar a crentalhada que ainda não percebeu que este blog de teor ateu, é também um local de liberdade onde os seus responsáveis e criadores, colocam aquilo que lhes vai na “alma”. É um direito que lhes assiste e, na minha muito modesta opinião, caso não gostem do que lêem, ALT-F4 e resolvem o problema

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