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  • 15 de Junho, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • AAP

Campanha de Apostasia 2010 – Exposição ao Núncio Apostólico

Exmo. Senhor
Núncio Apostólico Rino Passigato

Nunciatura Apostólica

Avenida Luís Bívar 18
Lisboa 1069-147 LISBOA

Exmo. Senhor Embaixador:

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP), indignada com o abusivo número de crentes que a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) reivindica e com os privilégios de que goza em Portugal, tomou a iniciativa de lançar, no dia em que o Papa Bento XVI aterrou em Lisboa, uma “Campanha de Apostasia 2010“, a nível nacional, para que todos aqueles que foram baptizados, e que hoje em dia não se consideram católicos, possam agir em conformidade e deixar de ser contabilizados pela ICAR para efeitos estatísticos e usados como instrumento de pressão sobre o poder político.

Sabe-se que apenas cerca de 18 por cento dos portugueses se afirmam como “católicos praticantes”, um número que tem vindo a diminuir de forma consistente ao longo dos anos e que, desde 2007, existem por ano mais casamentos civis do que religiosos.

Esta situação ilustra uma clara e progressiva secularização da sociedade portuguesa, de todo incompa-tível com a encenação pia levada a efeito durante a visita papal e, sobretudo, com os privilégios injustos e injustificáveis usufruídos e reclamados com base em números fictícios.

Correspondendo ao apelo da “Campanha de Apostasia 2010“, os interessados têm acedido ao site oficial da AAP e seguido as instruções lá indicadas na convicção de que neste ano de centenário, todos juntos poderemos contribuir para uma República mais justa, sempre fiel aos seus princípios laicos.

Acontece, porém, que os párocos ignoram ou iludem os pedidos de apostasia  recusando certificar que os cidadãos interessados deixaram de pertencer à religião com cujos princípios não se identificam.

Assim, solicitamos a V. Ex.ª que, por intermédio da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) ou pelos canais que julgue mais apropriados, sejam dadas instruções aos párocos para que certifiquem o aver-bamento da apostasia nos registos de baptismo a quem o reclamar.

Pedimos ainda a V. Ex.ª que nos mande informar  como proceder no caso de duas ateias baptizadas em países estrangeiros:

a)    M. A. F. – Fui baptizada em 1958 em Marrocos – Tetuan (Marrocos Espanhol), por isso numa igreja católica espanhola. A quem me posso dirigir para renunciar ao baptismo?

b)    S. C. – Certificado requerido ao Padre Pedro (Paróquia du Sacré-Coeur de Gentilly) que, embora prometendo ir esclarecer as dúvidas que o assaltam, não se coibiu de lhe dizer:
«Actualmente e desde que tem consciência nunca esteve em comunhão com a Igreja, como reconhece. Por isso me pergunto se faz sentido pedir a defecção não havendo nunca antes uma comunhão efectiva e consciente da sua parte», como se o que o senhor pároco pensa tivesse relevância para o que a requerente reclama.

Esperando resposta tão breve quanto possível da parte de V. Excelência,

Apresentamos-lhe os nossos cumprimentos.

Associação Ateísta Portuguesa, 15 de Junho de 2010

7 thoughts on “Campanha de Apostasia 2010 – Exposição ao Núncio Apostólico”

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  • Anónimo

    Acredito muito pouco que uma embaixada (a nunciatura apostólica é o corpo diplomático), se dê ao trabalho de responder a uma carta de uma associação sem qualquer interesse, sem aceitação social expressiva e sem qualquer mérito ao reconhecimento.

    O Núncio, tal como qualquer embaixador, não abre a correspondencia que é dirigida à embaixada (excepto correspondencia oficial de estado). O lixo: a propaganda, as cartas jocosas ou indecentes, toda a correspondencia absurda é deitada ao lixo.

    Lá estará esta carta, com o comentário de quem abriu: ” estupidez de canalha e alienados sem noção do ridiculo!”

  • antoniofernando

    Texto bem escrito, pese embora o tratamento reverencial de ” Vossa Excelência “…

  • Eduardocostadias

    Um pequeno pormenor: quando denunciados e “encalacrados” por todos os lados, como é actualmente o caso da ICAR, os núncios lêem tudo… até a folha de couve de ribasado! Anónimo, não faça como a avestruz! A ICAR está nas últimas…basta um sopro um pouco mais forte. Pela minha parte, não hesitarei!

  • Jorge Bigotte

    Anónimos pusilânimes não merecem qualquer resposta.

  • anonimo

    Digníssimo comentador:

    Pode imaginar o que quiser, incluindo que a igreja se encontra preocupada com as opiniões desta associação ou de todas as associações como esta.

    Não está preocupada nem tem motivo para isso. Ao longo de vinte séculos, foram muitos os ataques à igreja. Muitos e bem duros. Comparados com os ataques de todos os ateus da actualidade, esses ataques eram bombas atómicas contra o vosso estalar dos dedos que hoje fazem.

    A igreja só tem beneficiado com tais ataques. A razão é simples: chega um dia em que as pessoas percebem de que lado está a razão e a justiça.
    sempre foi assim e sempre assim será enquanto existirem homens à face da terra.

    Já no que respeita à correspondência ser lida ou não, posso dizer o seguinte:
    As embaixadas depuram toda a correspondência, destruindo tudo o que não interessa. Essa é uma prática comum e que toda a gente conhece.
    Dentro da igreja católica, os padres ignoram tudo o que for lixo, os bispos dão ordens para que tal correspondência seja destruída. Creio que o Vaticano fará mesma coisa.
    Eu já fui visado por essa forma de actuar numa diocese portuguesa. Se não fosse a intervenção de uma conhecida figura pública, a quinta carta que enviava seria destruída com lixo, com a agravante de que o assunto interessava tanto a mim como à igreja e eu já havia contactado, telefonicamente, a diocese, da terceira vez.

  • jovem1983

    Caríssimo anonimo:

    A Associação representa a opinião de pessoas, quer queira, quer não queira, devidamente integradas no funcionamento da sociedade portuguesa, certamente como você está.

    Reveja bem a sua noção sobre a posição da Igreja perante os seus problemas, em particular, relativamente ao recuo do número de fieis, ditos praticantes e não praticantes, ou mesmo em relação ao número de párocos disponíveis.

    As estatísticas existentes no espaço europeu, quer nacionais quer estrangeiras, demonstram uma clara e acentuada tendência descendente, o que constitui sérios problemas para a dita instituição.
    Alguns factos têm grande relevo nesta problemática: o aumento da diversidade e práticas religiosas na Europa, bem como a acentuada e progressiva secularização social (tenha atenção que faz poucos anos que esta Igreja em particular dedicou em exclusivo a sua atenção aos ateus de todo o mundo).

    Neste quadro, muito possivelmente, determinadas correspondências devem certamente obter especial intenção, contudo não há garantias quanto a uma eventual resposta e a celeridade da mesma. Têm consciência que mais depressa se abre uma carta formal, selada e identificada de uma instituição que é considerada fonte de transtorno, do que uma carta individual, pessoal, ou cujo objecto do assunto diga respeito a determinada esfera de actuação que não as embaixadas. Não sei qual foi o motivo e a forma como expediu a sua correspondência, mas esta terá sido expedita certamente com a dignidade, pertinência e representatividade de um conjunto de pessoas que pensa de forma diferente, e precisamente por isso quer, com toda a propriedade, o cumprimento e o respeito pelos seus direitos de liberdade e autodeterminação.

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