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  • 16 de Maio, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Fátima

O milagre do Sol e outros prodígios

No tempo em que as virgens saltitavam de azinheira em azinheira chegou uma em voos curtos à Cova da Iria, no dia 13 de Maio de 1917, coberta de luz, de manto branco, para dizer a três criancinhas que era do céu e prometer-lhes que as levaria com ela, mas que o Francisco teria de rezar muitos terços. Pediu ainda a virgem que voltassem nos dias 13, sempre à mesma hora, seis meses seguidos, para lhes dizer quem era e o que queria.

São assim as virgens, caprichosas e enigmáticas, mas tendo-lhe a Lúcia perguntado por duas amigas mortas, logo lhe disse que a Maria das Neves estava no Céu e que a Amélia estaria no Purgatório até ao fim do mundo, novas de quem viaja, saber de quem conhece o país das almas e está de visita à paróquia de Ourém, sem adivinhar que o Purgatório será extinto.

As crianças obedeceram, depois de aceitarem oferecer-se a deus para suportarem todos os sofrimentos que ele quisesse enviar-lhes em acto de reparação pelos pecados com que ele, deus, era ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores.

Depois de se terem comprometido a pagar as dívidas alheias, a virgem levantou voo na vertical, não sem antes ter pedido que rezassem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra. Eram dóceis as crianças. Doutro modo podia nunca ter acabado a guerra que em 1918 se extinguiu.

O Sol, condenado à imobilidade por Galileu, revoltou-se contra a ciência, reconciliou-se com os preceitos bíblicos e um dia fez piruetas na Cova da Iria para reabilitar o deus de Abraão, estupefazer as criancinhas e deslumbrar os mirones que acorriam ao local.

Exultaram os padres que teceram o milagre para excitarem as hostes contra a República, benzeram-se os crentes que agitavam terços e renderam-se os incréus do costume para atestarem a verosimilhança do prodígio pio.

Que sorte não existirem então as medidas de segurança que ora soem. Se a virgem que vinha mensalmente cavaquear com os pastorinhos e o anjo que ali desceu, convencido de que era seguro o anjódromo, tivessem apanhado com um decreto que interditasse o corredor aéreo, certamente que a GNR teria aberto fogo com as escopetas e teríamos o anjo de asas quebradas, a voar baixinho, e uma virgem derrubada da azinheira a esvair-se sem pensar na guerra, nos terços e nos pecados.

Valeu ao negócio da fé o carácter artesanal com que então se defendia o espaço aéreo.

6 thoughts on “O milagre do Sol e outros prodígios”

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  • antoniofernando

    A Senhora de Fátima é praticamente uma reprodução da Senhora de Lourdes. Só que esta, segundo declarou Bernardette Soubirus, tinha olhos azuis e a de Fátima olhos negros.

    Recordemos as declarações de Bernardette:

    “A DAMA usava um vestido branco, apertado na cintura por uma fita Azul, um véu branco na cabeça que descia até a altura do busto. O vestido era longo e cobria os pés, deixando aparecer só as extremidades, com uma rosa amarela em cada pé, da mesma cor da corrente do terço que trazia na mão direita. Olhava com suavidade e tinha os olhos completamente azuis”.

    Segundo as declarações inicialmente prestadas por Lúcia, em 1917, a Senhora de Fátima teria olhos negros:

    “O trajo era: um manto branco que chegava da cabeça até ao fundo da saia; era dourado da cintura para baixo, cordões a atravessar e de alto a baixo e nas orlas ouro mais fino. A saia era toda branca e dourada em cordões ao comprido e a atravessar mas só chegava ao JOELHO. Casaco branco sem ser dourado tendo nos punhos só dois ou três cordões; não tinha sapatos, tinha meias brancas sem serem douradas; ao pescoço tinha um cordão d’ouro com medalha aos bicos; tinha as mãos erguidas; tinha nas orelhas uns botões muito pequeninos e muito chegados às orelhas; separava as mãos quando falava; tinha os olhos pretos; era de meia estatura”.

    O Mestre Guilherme Thedim, criador da imagem oficial de Fátima, deu-lhe um ” jeitinho” de liberdade artística e transformou a menina de soquetes brancas e saia pelo joelho numa Senhora muito parecida com a de Lourdes. Então Portugal não haveria, ao menos, de ganhar o campeonato mundial das aparições marianas? Primeiríssimo lugar, pois então. No 13 de Outubro de 1917, houve um disco prateado voador, a ziguezaguear, sobre a Cova da Iria, que a multidão confundiu com o suposto Milagre do Sol? Deixem lá isso. Não sejam implicativos. A Senhora de Fátima, de olhos negros, apesar das suas incongruências, bate a Senhora de Lourdes, de olhos azuis, aos pontos. Querem ver? Em 1879, antes de morrer, Bernardette de Soubirus terá escrito ao papa Leão XIII e, entre outras, revelado a seguinte profecia:”na véspera do ano 2000, assistir-se-á ao combate entre os sequazes de Maomé e as nações cristãs. Realizar-se-á uma terrível batalha, em que 5.650.451 soldados perderão a vida, e uma bomba de grande potência será lançada sobre uma cidade da Pérsia.” A Senhora de Lourdes quis fazer um figurão e até preconizou o ” número exacto” de seres humanos que iriam perecer na ” terrível batalha”, na véspera do ano 2000. E Bernardette possuía, ou uma memória prodigiosa, ou ia para as aparições com gravador escondido. Então não é que as aparições de Lourdes teriam ocorrido em 1858, e, em 1879, ela ainda se recordava do número exacto de soldados que iriam perecer nas vésperas de 2000? Há apenas uma ” pequena diferença”: a Senhora de olhos azuis de Lourdes não acertou na profecia. A Senhora de olhos negros de Fátima anunciou um milagre para o dia 17 e falhou por pouco. Afinal um disco prateado a ziguezaguear sobre a Cova de Iria não é o Sol mas é parecido…

  • antoniofernando

    Às vezes, também eu me engano mas ainda vou a tempo de rectificar: “A Senhora de olhos negros de Fátima anunciou um milagre para o dia 13 de Outubro de 1917 e falhou por pouco”, queria dizer, em vez de “A Senhora de olhos negros de Fátima anunciou um milagre para o dia 17 e falhou por pouco”…

    P.S. Também eu aqui falhei por pouco e garanto não ser a Senhora de Fátima:-)

  • JoseMoreira

    Ah! António Fernando…
    A contactologia faz milagres. Lentes de contacto de várias cores é coisa antiga. Aliás, julgo que alguém viu a senhora, antes de aterrar na azinheira, a fazer compras na Multiopticas (passe a publicidade).

  • antoniofernando

    José Moreira:

    Há sempre a hipótese de a Senhora de Lourdes ter uma irmã gémea, não ? 🙂
    Vá, não podermos ser, nem ” sectários” nem ” precipitados” na abordagem deste assunto muito sério…:-)

    P. S. Gostava é de saber as explicações da hierarquia da ICAR quanto às diversas tonalidades dos olhos das Senhoras das aparições….

  • JoseMoreira

    Eu gosta era de saber a explicação da ICAR para três crianças conseguirem olhar para uma senhora “mais brilhante que o sol”. E não ficaram cegas nem nada.

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