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  • 14 de Abril, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • AAP

Associação Ateísta Portuguesa

Contra a tolerância de ponto em 13 de Maio



Correio do Minho

13 thoughts on “Associação Ateísta Portuguesa”
  • cristaoconfesso

    Portugal é um estado laico.O 25 de Dezembro um feriado de uma celebração religiosa. Sejam coerentes e proponham também acabar com esse dia do calendário dos feriados nacionais.Porquè só o 13 de Maio ?

  • manueldiasA

    Snr. Carlos Esperança,
    Vejo que ninguém quer responder ao comentário colocado na zona de comentários da CArta dirigida a Sua Eminência D. Jorge Ortiga. Porque será?
    Os senhores que estão contra a tolerância de ponto no dia 13 de Maio, alegando a questão do estado laico, porque não comentam o facto do Snr. Primeiro Ministro e do Snr. Presidente da CML terem participado numa cerimónia religiosa na Mesquita de Lisboa? E então aqui o estado já não é laico?
    Volto a repetir aqui o meu comentário para ver se V.Exas. têm a ombridade de justificar esta situação.
    Começo o meu comentário citando V.Exa. na carta endereçada a Sua Eminência D. Jorge Ortiga presidente da Conferência Episcopal Portuguessa:
    “…mas não pode aceitar que o carácter laico do Estado português seja posto em causa…”
    Perante esta frase tão importante na defesa da sua posição face à “colaboração” do Estado português c/ a Igreja Católica, permita-me que recue precisamente 30 dias atrás, dia 14 de Março de 2010. E porque cito eu esta data? Porque, não queria deixar de o relembrar para um facto que se passou nesse dia e que foi noticiado em todos os OCS sem excepção – a presença do nosso Primeiro-Ministro José Sócrates e do Snr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa Dr. António Costa, nas cerimónias oficiais que assinalaram o 25º Aniversário da edificação da Mesquita de Lisboa. Ora , como bem sabe, estes 2 importantes políticos de Portugal não estiveram presentes na cerimónia religiosa islâmica que assinalou as bodas de prata da Mesquita, na qualidade de diregentes do Partido Socialista, estiveram presentes na qualidade de Primeiro-Ministro de Portugal e Presidente da CML o que significa dizer, estiveram presentes em representação do Estado Português.
    Ora como refere e bem V.Exa., o estado é laico e a laicidade do estado não pode ser posta em causa. Mas agora pergunto eu? O estado, na visão de V.Exas., só tem de ser laico quando se tratam de cerimónias ligadas à Igreja Católica? É que começa a ser descarada a vossa visão sectária do assunto religião / Estado laico. É lamentável a vossa visão sectária, até porque, não me constou que a AAP tenha dirigido qualquer carta ao Imã da Mesquita, ao PM ou ao presidente da CML alertando para o facto de poder estar em causa o Estado laico e mostrando a vossa indignação perante a presença de tão altas figuras do Estado numa cerimónia de cariz religioso.
    Mas já agora, no que toca ao assunto “Estado laico” não posso deixar de citar o Snr. Primeiro Ministro à saída dessa cerimónia – “Salientando que o Estado português é laico, mas a sociedade não, Sócrates afirmou que “um princípio fundamental na acção do Governo é o respeito absoluto pela liberdade religiosa e pela neutralidade do Estado face à crença religiosa de cada cidadão”.
    Ora nesta declaração inteligente de José Sócrates está explicito o conceito que V.Exas. nunca , mas nunca deveriam esquecer. O estado é laico, MAS A SOCIEDADE NÃO O É.!
    Bem sei que José Sócrates só emitiu esta opinião nesta cerimónia concreta, porque também ele e António Costa em relação à Igreja Católica nunca fizeram uma declaração deste tipo o que mostra bem que, não só a AAP mas também a AR&L e vários elementos mais radicais e jacobinos do Partido Socialista são sectários e tendenciosos quando se trata de algum assunto relacionado com a Igreja Católica. Começamos a estar habituados, escusavam era de o mostrar tão claramente. Pena que Associações como a Vossa se prestem a este serviço, sem o minimo de independência. Mas, virá um dia, se Deus quiser, que este tipo de actuação será denunciado e mostrado ao mundo, porque afinal não é só em Portugal que assitimos a este sectarismo e a esta PERSEGUIÇÃO PROPOSITADA à verdadeira religião. Só por ela ser verdadeira é que tantos lhe têm tanto ódio e vontade de a destruir. Já agora e para terminar recordo-lhe as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo quando fundou a sua Igreja: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18)”.

  • cristaoconfesso

    Muito bom este comentário.Bem escrito e bem elaborado.Colocando todos os pontos nos is.

  • Ricardo Marques da Silva

    A tolerancia de ponto só prova que para os católicos o Papa não vale sequer um dia de férias, que era o q um bom católico deveria de fazer. Mas não…eles querem é “borlas”!

    E para o sr. do 25 de Dezembro…já foi provado que o vosso grande mártir não nasceu nesse dia. Embora tradicionalmente seja um feriado cristão, o Natal é amplamente comemorado por muitos não-cristãos, sendo que alguns de seus costumes populares e temas comemorativos têm origens pré-cristãs ou seculares. Ou seja….a Igreja, mais uma vez, colou-se a algo que já existia para marcar a sua suposta posição dominante.

  • em nome da liberdade

    É arriscado escrever sobre estas coisas. Não estão na moda
    Público, 2010-04-02 José Manuel Fernandes

    Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados “escândalos de pedofilia” na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal – no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses -, estamos ou não perante “A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos”.

    Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, “a destruição da religião comportou a destruição da razão”, a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso “não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie”. Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.

    Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais – um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador – tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.

    Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária – a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas – como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado – até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.

    Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes “escândalos” é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.

    Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto – Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela – de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições, pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de “tolerância zero”.

    Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões, há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem “protectores” nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos – um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres haviam atingido maiores proporções – para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.

    Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como “um crime” e não apenas como “um pecado”, ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.

    De facto – e este aspecto é muito importante – a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma “Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual” que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales “optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados”.

    Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos “murmúrios da opinião dominante”, e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bimilenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.

    Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, “para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução”.

    Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de “eros”, o termo grego para êxtase sexual, e de “ágape”, a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma “relação crispada” entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do “eros”, mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.

    Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.

  • em nome da liberdade

    É arriscado escrever sobre estas coisas. Não estão na moda
    Público, 2010-04-02 José Manuel Fernandes

    Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados “escândalos de pedofilia” na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal – no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses -, estamos ou não perante “A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos”.

    Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, “a destruição da religião comportou a destruição da razão”, a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso “não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie”. Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.

    Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais – um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador – tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.

    Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária – a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas – como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado – até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.

    Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes “escândalos” é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.

    Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto – Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela – de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições, pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de “tolerância zero”.

    Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões, há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem “protectores” nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos – um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres haviam atingido maiores proporções – para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.

    Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como “um crime” e não apenas como “um pecado”, ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.

    De facto – e este aspecto é muito importante – a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma “Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual” que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales “optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados”.

    Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos “murmúrios da opinião dominante”, e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bimilenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.

    Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, “para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução”.

    Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de “eros”, o termo grego para êxtase sexual, e de “ágape”, a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma “relação crispada” entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do “eros”, mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.

    Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.

  • Carlos

    Compreendo e subscrevo a tolerância de ponto para os funcionários públicos. Na minha qualidade de professor, sinto-me muito confortável para poder mandar as crianças para casa, ficando seguras, com tanto padre à solta.

  • cristaoconfesso

    Infelizmente há pais que violam os seus próprios filhos. Talvez não estejam assim tão seguras em casa. Porventura ficariam mais bem acobertadas na escola. Se também aí não existissem pedófilos encapuçados…

  • cristaoconfesso

    No dia 13 de Maio também se festejava uma festa pagã,chamada Lamuralia. Pode ser que os adoradores dessa festa também queiram agora aproveitar a ” borla” da tolerância de ponto,com o argumento de que Fátima só surgiu em 1917.Afinal, também a Lamuralia evocava um costume popular e um tema comemorativo pré-cristão.Porque não colocá-la também no itinerário da referida tolerância de ponto ?…

  • Baal

    Ó liberdades, já percebemos que um “agnóstico informado” acaba necessariamente a papaguear a propaganda da igreja. Porque nela residirá toda a verdade, o razt é um santo, exigir justiça ás vitímas é guerra à religião etc etc etc.

    Entretanto já devias ter percebido que toda a gente já percebeu que és tanto um “agnóstico informado” como eu sou o S. Francisco de Assis. E repetires o mesmo texto três ou quatro vezes ainda torna a brincadeira mais cretina. Se é assim que vocês se comportam como esperam não perder o respeito ?

  • Baal

    cristaoconfesso,

    Sim, também há prfessores pedófilos.

    Do que nunca houve notícia é o ministério da educação ter ameaçado ou subornado as vitímas e testemunhas para safar algum professor pedófilo.

    Nesses casos o que normalmente se passa é a autoridade da escola fazer um inquérito próprio e informar as autoridades. Caso não o faça o próprio ministério o manda fazer. É assim em todas as organizações publicas ou privadas decentes. Claro que não é isso que se passa na igreja…

    E mesmo que não fizesse, se o caso fosse descoberto o Sr. ministro provavelmente enfrentava uma demissão e um processo crime. Mas claro que a direção central da igreja, POR ENQUANTO, não corre esse risco.

  • manueldiasA

    vejo que os arautos da verdade que militam na AAP continuam sem explicar o vosso conceito de estado laico, e por isso conintuam sem responder ao meu comentário que já tem 2 dias. A resposta para mim é simples, para os senhores que militam na AAP, nos grupos de extrema esquerda radical, no partido socialista dos jacobinos, e até alguns membros da hierarquia da Igreja Católica não conseguem dar uma resposta coerente ao facto de 2 altos representantes do estado terem estado presentes numa cerimónia religiosa islâmica, e com esta ausência de resposta mostram bem que para os senhores que militam na AAP, na minoria da extrema esquerda radical, no Partido socialista dos jacobinos e alguns membros da Igreja Católica, Estado Laico não passa de uma ideologia que visa ápenas e só destruir a verdadeira religião que tantos vos incomoda: a religião católica e a sua Igreja. Volto a repetir aqui as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo quando fundou a sua Igreja: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18)”.

  • cristaoconfesso

    claro também há ateus e professores pedófilos.Infelizmente não há nenhuma organização hierárquica dos ateus que permita controlá-los melhor do que aos padres pedófilos.

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