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  • 19 de Março, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

Bento – 16: pastorais ou empaleanço?…

Por

É – Pá

Hoje, ou amanhã (…os timings do Vaticano são misteriosos), Bento 16 publicitará uma mensagem dirigida aos católicos irlandeses, com a finalidade de reparar danos “irreparáveis” (passe a redundância) causados pela sucessão de vergonhosos e inadmissíveis escândalos de pedofilia que atingem – impiedosamente – a ICAR.

Não conhecemos (ainda) o teor dessa anunciada mensagem.

Todavia, sabemos que a sua premência, logo, a sua oportunidade, terá nascido na sequência de um encontro realizado, em Fevereiro último, entre o papa e os bispos irlandeses.

O confinamento desta mensagem aos fiéis irlandeses é extremamente redutor para a ICAR. A Igreja católica tem pretensões de universalidade e os escândalos de pedofilia, no seu seio, alastram por todo o Mundo como uma monstruosa mancha que, todos os dias, se expande .
O próprio Bento 16 teve consciência desse facto e na última audiência pública realizada no Vaticano, no passado dia 17 de Março, tentou emendar a mão reconhecendo que essa mensagem contemplava “todos os fiéis”.
Seria melhor que essa mensagem tivesse ainda um âmbito mais vasto e tivesse a pretensão de uma divulgação universal. Isto porque a ICAR está atolada em crimes que não atingem selectivamente “fiéis” mas, num consenso global, a Humanidade.

Finalmente, as expectativas de Bento 16, relativamente ao impacto dessa “carta pastoral” – são irrealistas, para não lhe chamar utópicas.
No actual momento que a ICAR atravessa não há documentos que consigam, como deseja o papado, “ajudar no processo de arrependimento, cura e recomeço”
A situação publicamente revelada é muito mais grave. Não se tratam de meras escoriações…
As feridas causadas pelo mar de escândalos de pedofilia no seio da ICAR minam, de modo irreversível, a pretensa autoridade moral do Vaticano. O prognóstico relativamente aos danos causados não pode encaminhar-se para alucinantes expectativas de “miraculosas” curas, como deseja Bento 16. Como o povo diz – santos de casa não fazem milagres…

A evolução natural das feridas abertas no seio da ICAR e a “conta-gotas” reveladas ao Mundo (crente e não-crente), não se compadece com esperanças de hipotéticas “curas” mas, pelo contrário, a gravidade dos danos aponta para um fim cataclísmico. As “feridas” ameaçam gangrenar. Resta-lhe, portanto, em vez de cartas pastorais, proceder a cruentas amputações ou, em alternativa, surgirá a falência sistémica.
A resistência do cardeal irlandês Sean Brady em aceitar a vontade popular no sentido de demitir-se das suas funções, mostra que a hierarquia religiosa, ao mais alto nível, optou por cuidados paliativos.

Será este o conciso âmbito da anunciada carta-pastoral!

1 thoughts on “Bento – 16: pastorais ou empaleanço?…”
  • ricardodabo

    O sistema secreto que protege os crimes sexuais dos eclesiásticos remonta pelo menos ao início do século XVII, quando o fundador da ordem dos Piaristas, padre Joseph Calasanz, proibiu que as violências sexuais praticadas por seus sacerdotes contra crianças fossem divulgadas ao público. E esse sistema, aprovado por séculos e valorizado por todos os papas, está desde então na base dos escândalos das últimas décadas.
    Só o medo, a arrogância e talvez o senso de impunidade da hierarquia vaticana podem explicar casos como o do padre Michael Baker, que, em 1985, confessou espontaneamente ao então arcebispo Mahony que molestava crianças. A resposta foi calar a todos, afastá-lo de sua paróquia, proibir qualquer contato seu com crianças e submetê-lo a uma série de sessões com psiquiatras e psicólogos, o que não impediu de continuar com seus hábitos.
    Existem, pelo menos, dez casos documentados de crianças gravemente violentadas por ele após sua “reabilitação” e, com certeza, esse número é bem maior, tendo em vista o pudor e a vergonha que impediram muitas vítimas de seguir adiante. Foi preciso esperar até 2000, 15 anos após sua confissão, para que ele finalmente fosse destituído de sua condição de padre e expulso da igreja.
    E este é apenas um exemplo. Em muitos casos, a violência não se limita às crianças, atingindo também mulheres (menores ou maiores de idade) e freiras.
    A Igreja sempre tentou impor o silêncio e abafar os escândalos, transferindo os padres incriminados para outras dioceses e, nos casos mais graves, oferecendo indenizações em dinheiro (parece que o primeiro caso data de 1935).
    Com o fundo de compensação de 120 milhões de dólares anunciados pela diocese de Covington, no Kentucky, em junho de 2005, de 1950 até hoje, a Igreja Católica americana já pagou 1,06 bilhão de dólares a titulo de ressarcimento a mais de 11.500 vítimas de padres pedófilos.
    Nos últimos três anos, as dioceses americanas pagaram pelo menos 378 milhões de dólares. E a quantia deve aumentar, haja vista as centenas de acusações ainda pendentes.
    O instituto das indenizações aumenta continuamente, graças também ao destaque que os casos tiveram na imprensa. Por exemplo, em dezembro de 2004, a diocese californiana de Orange aceitou pagar 100 milhões de dólares a 87 vitimas de abuso. Um ano antes, a arquidiocese de Boston concordou em pagar 85 milhões a 552 vítimas. E o escândalo não diz respeito apenas aos Estados Unidos: Irlanda, Espanha, América Latina e Filipinas são alguns dos lugares de onde chegam denúncias quase diárias de violência sexual de padres contra menores.
    Entretanto, as autoridades eclesiásticas parecem não aprender a lição. Em 2001, em carta enviada a todos os bispos católicos, o então cardeal Ratzinguer, atual papa Bento XVI, ordenou que os bispos investigassem secretamente, sob pena de excomunhão, as acusações de abuso sexual de menores. Os resultados das investigações continuariam em segredo até dez anos após a vítima ter atingido a maioridade.

    Fonte: O livro negro do Cristianismo – Dois mil anos de crimes em nome de Deus.
    Autores: Jacopo Fo, Sérgio Tomat, Laura Malucelli.
    Capítulo: O escândalo da pedofilia
    Páginas: 210 e 211.

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