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  • 13 de Dezembro, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

Alguns dados sobre João Paulo II, em vias de beatificação

A morte de JP2 relembrou a dor e sofrimento que atingiu a URSS quando o pai da Pátria, José Stalin, exalou o último suspiro e recorda o histerismo demente que rodeou a morte do ayatola Khomeini em todo o mundo árabe, particularmente no Irão. Em comparação, a morte de Salazar foi chorada de forma contida, mas os déspotas produzem emoções mais fortes do que os democratas.

O absolutismo papal, restaurado com o apoio entusiástico do Opus Dei, da Comunhão e Libertação e de outros movimentos integristas, fez de JP2 o Papa da «Contra-Reforma», anti-modernista, infalível e retrógrado, que substituiu os anacrónicos autos de fé pela comunicação social e pela diplomacia.

O Papa da Paz, como os sequazes o alcunharam, apoiou a Eslovénia e a Croácia (maioritariamente católicas) e a Bósnia e o Kosovo, nações muçulmanas, contra a Sérvia cuja obediência à Igreja Ortodoxa constituía um entrave ao proselitismo papal que tem nos ortodoxos a principal barreira ao avanço do catolicismo para leste.
A protecção aos padres que participaram activamente no genocídio no Ruanda foi mais um desmentido do boato sobre o alegado espírito de paz e justiça que o animava.

A intervenção de JP2 a favor da libertação de Pinochet, quando foi detido em Londres, foi coerente com a beatificação de Pio IX, do cardeal Schuster, apoiante de Mussolini e do arcebispo pró-nazi Stepinac. O auge da ignomínia foi a meteórica canonização do admirador de Franco e fundador do Opus Dei, Josemaria Escrivá de Balaguer.

JP2, ele próprio profundamente supersticioso e obscurantista, chegou a ser obsceno na forma como inventou milagres para 448 santos e 1338 beatos cujos emolumentos contribuíram para o equilíbrio financeiro da Santa Sé e para o delírio místico dos fiéis fanatizados.
Da prática do exorcismo à exploração de indulgências, da recuperação dos anjos à aceitação dos estigmas como sinal divino (canonizou o padre Pio), tudo lhe serviu para alimentar uma fé de sabor medieval e uma moral de conteúdo reaccionário.

O horror que nutria pela contracepção, o aborto, a homossexualidade e o divórcio são do domínio da psicanálise. O planeamento familiar era para o déspota medieval um crime. A SIDA era considerada um castigo do seu Deus e, por isso, combateu o preservativo, tendo o Vaticano recorrido à mentira, afirmando que era poroso ao vírus (2003).
O carácter misógino, o horror à emancipação da mulher, a crença no seu carácter impuro, foram compensados pelo culto doentio da Virgem, recuperado da tradição tridentina.

Como propagandista da fé, pressionou Estados, condicionou a política de numerosos países, ingeriu-se nos assuntos relativos ao aborto, à eutanásia e ao divórcio e acirrou populações contra governos democraticamente eleitos. Apoiou comandos anti-aborto, estimulou a desobediência cívica em nome dos preconceitos da ICAR, influenciou a redacção da Constituição Europeia, e chegou ao despautério de pedir aos advogados católicos que alegassem objecção de consciência e se negassem a patrocinar o divórcio.

O Papa da Paz condenou a atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago; envidou todos os esforços para obter o Nobel da Paz para si próprio, que justamente lhe foi negado; excomungou o teólogo do Sri Lanka, Tyssa Balasuriya por ter posto em causa a virgindade de Maria e defendido a ordenação de mulheres; perseguiu ou reduziu ao silêncio Bernard Häring, Hans Küng, Leonardo Boff, Alessandro Zanotelli e Jacques Gaillot; marginalizou Hélder da Câmara e Oscar Romero; combateu o comunismo e pactuou com as ditaduras fascistas. João Paulo II morreu uns dias depois de o Vaticano ter proibido a leitura ou a compra do «Código Da Vinci» do escritor Dan Brown e sem nunca ter censurado a fatwa que condenou à morte o escritor Salmon Rushdie.

O Papa que morreu, segundo a versão oficial, no dia 02-04-2005 (soma = 13), às 21h37 (soma = 13), curiosidades «assinaladas» pelo bispo de Leiria/Fátima, não pode ser o algoz da liberdade, o déspota persecutório, o autocrata medieval, o ditador supersticioso e beato que conhecemos. É capaz de ser outro papa o que consternou chefes de Estado e de Governo, que alimentou os noticiários de todo o mundo, que rendeu biliões de ave-marias e padre-nossos, que ocupou milhões de pessoas a rezar o terço, vestígio do Rosário da Contra-Reforma, que recuperou graças ao apoio da Virgem Maria que também o promoveu nas suas aparições na Terra.

O Papa que morreu era talvez uma pessoa de bem que, modestamente, ocultou tal virtude. Foi celebrado por dignitários políticos, religiosos e outros hipócritas que, na morte, lhe enalteceram as virtudes e calaram os defeitos. Foi o cadáver que milhares de abutres aguardavam para exibir e explorar numa derradeira campanha de promoção da fé católica.

Foi, todavia, o mesmo Papa que anatematizou os ateus, fez inúmeras declarações contra o laicismo, silenciou teólogos, beatificou fascistas e combateu o planeamento familiar. A sua obsessão era reduzir o mundo a um casto bando de beatos, tímidos e idiotas, sempre de mãos postas e de joelhos. O livre-pensamento, a modernidade , o prazer e a liberdade foram os seus inimigos figadais.

17 thoughts on “Alguns dados sobre João Paulo II, em vias de beatificação”
  • realista

    o papa protegeu padres de Ruanda ??? Existe noticia sobre isso ?

  • Nogod

    faltou citar o envolvimento dele com o Ambrosiano e Marcinkus

  • Baal

    Concordo que a “bonzice” desse papa foi o maior embuste do Séc XX.

  • Realista

    não só a dele.. mas tbm de P12

  • Realista

    vou fazer resumo de alguns podres dos ultimos papas…

    Pio XI: affaire com Mussolini; pacto de Lat(d)rão…
    Pio XII: affaire com Hitler,Pavelic,Tiso,Franco etc. ;Ratlines…
    João XXIII:acobertamente de padres pedofilos…
    Paulo VI: envolvido com as Ratlines (quando era cardeal)
    João Paulo I: não sei
    João Paulo II: o texto cita os podres dele.. faltou o caso Ambrosiano
    Bento XVI: parceiro de JP2; protetor de pedofilos.

  • ricardodabo

    Realista, o Hitchens conta a história de um padre acusado de violentar mulheres em Ruanda e que foi protegido pelo João Paulo II. Isso está no Deus não é Grande. Se eu estivesse em casa, citava o trecho para você, mas meu computador estragou, estou numa lan house e não tenho como consultar.

  • Zeca Portuga

    Pois!….
    Mas esse a quem insultuosa e imbecilmente chamais JP2, foi uma das figuras mais importantes e mais consensuais do séc. XX.
    A vossa dor de cotovelo é porque ele ajudou, em muito, a acabar com o regime ateísta soviético e dando uma machadada fatal em todos os regimes ateístas do mundo.

    Com a ajuda dele, os regimes ateístas/comunas passaram a ser vistos como regimes indecentes e alvos a abater no mundo inteiro. O estado ateísta acabou – isso é qeu vos revolta!

    Inventar estupidez contra alguém que já faleceu (embora seja crime. segundo o nosso CP), é a coisa mais fácil do mundo, sobretudo quando vejo falar de realidades, locais, países e culturas que, quem comenta, desconhece totalmente.

  • Realista

    certo… mas procuro saber do genocidio

  • Realista

    Avise isso ao Vietnam,Cuba,China!!!

  • Realista

    Esqueceu de falar disso: o papa foi pra Nicara sandinista em 1983 na intenção de hostilizar o regime. Resultado: tomou 1 vaia histórica e foi embora humilhado…

  • ze1paulo

    completamente apoiado, voces não sabem mesmo o que dizem pois nao, isto vai mesmo de mal a pior. ja pensaram em pegar nuns livros de filosofia e teologia para nao dizerem tantos disparates. isso é que era de homem.

  • ricciardi

    Caro C. Esperança,

    O papa João Paulo II foi exactamente o oposto da imagem de que v.exa. neste texto quis transmitir; de onde lhe vem esse tamanho ódio?

    V.exa. tem a obrigação de conhecer, independentemente da religião, os constrangimentos a que um papa é sujeito; um pouco de bom senso não lhe fazia mal algum; um papa é uma pessoa dentro de uma instituição milenar, com os seus vicios e vicissitudes… observe para além disso, observe mais a floresta e concentre-se menos nas arvores… veja a pessoa maravilhosa que ele foi; com um sentido de união, de paz, de conciliação unicos.

    Mesmo sendo agnóstico, reconheço nesse Papa um ser humano de excelencia, bem diferente do actual.

    Aconselho-o a ler mais sobre JP II, da sua vida, das suas conquistas junto do totalitarismo sovietico, da simpatia que grangeo junto da juventude de todo o mundo, do respeito que TODAS as religiões por ele tinham, do respeito que ele teve por todas as religiões…

    Tenho por amigos e colegas pessoas religiosas muculmanas e todas elas referem-se a Joao Paulo II como sendo alguém muito especial…

    Sinceramente, leia a vida e obra de Joao Paulo II e tente ver os motivos pelos quais ele não podia ir mais longe… ser papa não é só ser um lider religioso, é também politica e história e cultura.

    RB

  • Tilo

    Esqueceu de falar disso: o papa foi pra Nicara sandinista em 1983 na intenção de hostilizar o regime. Resultado: tomou 1 vaia histórica e foi embora humilhado…

    No es verdad!

  • MARIA

    Perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que dizem – são uns pobres de espirito

  • MARIA

    perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que dizem – são uns pobres de espirito

  • MARIA

    Perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que dizem – são uns pobres de espirito

  • MARIA

    perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que dizem – são uns pobres de espirito

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