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João Paulo II e os serviços secretos

Aqueles que viram no rústico papa polaco um bom homem, talvez o último pontífice que acreditou em Deus, estão longe de avaliar a capacidade de intriga e a obsessão que o devorou na luta contra o comunismo.

Surpreenderam-se alguns que tenha manifestado publicamente a sua oposição à invasão do Iraque quando os seus mais fiéis seguidores forjaram as armas de destruição maciça. Esqueceram-se de que a duplicidade é apanágio da diplomacia do Vaticano. Dessa vez o Papa não recorreu à excomunhão dos agressores e limitou-se a anunciar que rezava pela paz com o ar de quem acredita na eficácia das orações.

Vale a pena recordar alguns factos históricos revelados pelo padre redentorista Antonio Hortelano que foi espião do Vaticano e da Mossad, reproduzidos pelo padre Anselmo Borges, no Diário de Notícias de 15 de Agosto último.

O Muro de Berlim caiu graças a João Paulo II, aliado com Reagan.” Mas censura Wojtyla pela troca de informações diárias com Reagan: “Todas as manhãs, Reagan mandava as suas informações ao Papa e este enviava-lhe a informação mais quente que recebia de todas as nunciaturas.” “Foi um grande erro.” Pior, porém, foi o escândalo do IOR, o Banco do Vaticano, e ter confiado as finanças da Igreja a monsenhor Marcinkus. “Foi o arcebispo de Baltimore que lho recomendou, mas já nos Estados Unidos Marcinkus estava relacionado com a Máfia. Por isso, quando se deu a queda do Banco Ambrosiano, que deixou um buraco no IOR de mais de mil milhões de dólares, Marcinkus quis tapá-lo negociando a dívida com a Máfia. No fim, depois de vários mortos, o Vaticano pediu aos religiosos que se encarregassem da dívida. Aceitaram, mas com a condição de ficarem com a gestão das finanças vaticanas. O Papa não quis e então apareceu o Opus Dei, que, através de Rumasa, tapou o buraco de Roma em troca da prelatura pessoal e da canonização do fundador da Obra.”

Desta vez o Vaticano preferiu o Opus Dei à Máfia. Ou optou por outra. Ou escolheu um intermediário. É inexequível desvendar todos os segredos pios.

No que se refere à espionagem é impossível averiguar os crimes cometidos no ambiente opaco do Vaticano. Os acordos de Latrão criaram um Estado totalitário, uma herança do fascismo, sem coragem para canonizar Benito Moussolini mas determinado a resistir à Justiça italiana.

3 thoughts on “João Paulo II e os serviços secretos”
  • Realista

    quando a ICAR diz ser contra ao comunismo.. na realidade ela é contra um mundo melhor… onde todos tenham acesso à educação e outros serviços basicos….

  • Carpinteiro

    Sempre que Walters, o embaixador de Regan, regressava de Roma depois de manter encontros secretos com João Paulo II, os seus relatórios eram ricos em informação. Walters falava com o Papa e com monsenhor Luigi Poggi sobre a Polónia, América Central, o terrorismo, Chile, o poder militar chinês, Argentina, a teologia da libertação, a saúde de Brejnev, as ambições nucleares paquistanesas, a Ucrânia ou a situação no Médio Oriente. Na realidade, o que João Paulo II e o seu chefe de espiões, Luigi Poggi, e Vernon Walters e William Casey da CIA faziam nesses encontros era manter «contactos geoestratégicos».

    Como contra partida pela informação sobre a Polónia, a Santa Aliança (nome dos serviços secretos do Vaticano), recebia da CIA relatórios baseados em conversas telefónicas gravadas entre sacerdotes e bispos da Nicarágua e El Salvador, nas quais estes apoiavam a teologia da libertação, e participavam activamente na oposição às forças apoiadas, militar e economicamente pelos Estados Unidos. Por ordem de William Casey, Oliver North e outros membros do Conselho de Segurança Nacional efectuaram pagamentos secretos a sacerdotes das classes dirigentes centro-americanas e leais a Roma e aos seus serviços secretos.

    A 23 de Abril de 1981, William Casey chegou a Roma. O motivo da viagem era tratar o fluxo do fornecimento económico e de material da CIA e dos Serviços Secretos do Vaticano ao Solidariedade de Walesa.

    Título – Os Espiões do Vaticano
    Autor – Eric Frattini
    Bertrand Editora
    18.50 Euros de muito boa leitura.

  • Carpinteiro

    Sempre que Walters, o embaixador de Regan, regressava de Roma depois de manter encontros secretos com João Paulo II, os seus relatórios eram ricos em informação. Walters falava com o Papa e com monsenhor Luigi Poggi sobre a Polónia, América Central, o terrorismo, Chile, o poder militar chinês, Argentina, a teologia da libertação, a saúde de Brejnev, as ambições nucleares paquistanesas, a Ucrânia ou a situação no Médio Oriente. Na realidade, o que João Paulo II e o seu chefe de espiões, Luigi Poggi, e Vernon Walters e William Casey da CIA faziam nesses encontros era manter «contactos geoestratégicos».

    Como contra partida pela informação sobre a Polónia, a Santa Aliança (nome dos serviços secretos do Vaticano), recebia da CIA relatórios baseados em conversas telefónicas gravadas entre sacerdotes e bispos da Nicarágua e El Salvador, nas quais estes apoiavam a teologia da libertação, e participavam activamente na oposição às forças apoiadas, militar e economicamente pelos Estados Unidos. Por ordem de William Casey, Oliver North e outros membros do Conselho de Segurança Nacional efectuaram pagamentos secretos a sacerdotes das classes dirigentes centro-americanas e leais a Roma e aos seus serviços secretos.

    A 23 de Abril de 1981, William Casey chegou a Roma. O motivo da viagem era tratar o fluxo do fornecimento económico e de material da CIA e dos Serviços Secretos do Vaticano ao Solidariedade de Walesa.

    Título – Os Espiões do Vaticano
    Autor – Eric Frattini
    Bertrand Editora
    18.50 Euros de muito boa leitura.

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