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O regresso (oportunista?) do Condestável

Quem conhece a História da 1ª República e do papel que desempenhou no apressar do seu final uma organização chamada «Cruzada Nacional Nuno Álvares Pereira», não pode deixar de ficar incomodado por ver na «Comissão de Honra» da «Canonização» desse cavaleiro medieval o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República, o ministro dos Negócios Estrangeiros e o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas.

Evidentemente, não se questiona o direito individual a acreditar em intercessões de além-túmulo seja de quem for, mesmo com a finalidade comezinha de curar uma queimadela de óleo de fritar peixe. Simplesmente, quem ocupa altos cargos de um Estado democrático e laico apenas deveria participar neste género de homenagem, se a consciência a isso o obriga, como cidadão privado e discreto, sob risco de estar a comprometer-se numa manobra que poderá ter aproveitamentos políticos e religiosos perigosos e indesejáveis.

Um Estado laico não patrocina crenças nem religiões; não promove igrejas nem cultos. A «canonização» de Nuno Álvares Pereira deveria ser um mero assunto privado entre os crentes católicos e a sua igreja, que decidiu certificá-lo com poderes de curandeiro post mortem, na curiosa data de 26 de Abril. Que algumas das principais figuras do Estado endossem esta campanha clerical, a pouco mais de um ano do centenário da implantação da República, demonstra que não têm memória histórica da exploração nacionalista que o Estado Novo fez desta figura, e que não compreendem que a laicidade não é a mera separação entre Estado e igreja.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

7 thoughts on “O regresso (oportunista?) do Condestável”
  • Carlos Esperança

    Perfeito.

  • centauro

    Este país bateu no fundo definitivamente, mas o que entristece, o que dói mesmo, é ver a indiferença dos portugueses perante tudo o que, infelizmente, vai acontecendo.
    Um gajo é condenado por corrupção e, dois meses depois, é convidado a integrar o quadro de uma administração pública; se não fossem as declarações do BE, de Cravinho e de Manuel Alegre, tudo se consumaria, sem que uma única palha se levantasse…
    Agora são os mais altos representantes do governo a participarem numa cerimónia que é uma das maiores imoralidades e imbecilidade de que há memória… coramos de vergonha, mas que se há-de fazer?
    Lembro-me de um poema do mestre Almada Negreiros, escrito em 1915 e dedicado a Álvaro Campos, intitulado “A Cena do Ódio”, em que a determinada altura diz:
    “(…) E vós também nojentos da Política
    que explorais eleitos o Patriotismo!
    Maquereaux da Pátria que vos pariu ingénuos
    e vos amortalha infames!”
    E mais à frente:
    “(…) Põe-te a fazer a bomba
    que seja uma bomba tamanha
    que tenha dez raios de Terra.
    Poe-lhe dentro a Europa inteira,
    os dois polos, e as Américas,
    a palestina, a Grécia, o mapa
    e, por favor Portugal.”
    E finalmente:
    “(…) Ó Horror! Os burgueses de Portugal
    têm de pior que os outros
    o serem portugueses!”
    Desculpem, mas estou cansado de ser português. E não me peçam para me ir embora porque não vou… tomara eu dinheiro para mandar cantar um cego.

  • São Ateu

    Claro que melhor seria empalhá-lo tipo São Lenine na praça vermelha para se efectuar culto ateu laico diário. Ou talvez tipo São Che Guevara para venda de camisolas estampadas com bom lucro capitalista…

  • olhar ateu

    Apoio, comento e desenvolvo em :

    http://olharateu.wordpress.com/2009/04/06/318/

    Cordialmente

  • Olhar.Ateu

    Apoio, comento e desenvolvo em :

    http://olharateu.wordpress.com/2009/04/06/318/

    Cordialmente

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