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  • 8 de Março, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Política

O Parlamento e a canonização de D. Nuno

A Assembleia da República já foi o coração da democracia. Na  última sexta-feira foi a sucursal da Conferência Episcopal. Deixou de ser Parlamento e passou a ser um charco de água benta onde a maioria dos deputados rubricou de joelhos o milagre que o Papa adjudicou a Nuno Álvares Pereira.

O PCP absteve-se e só o Bloco de Esquerda votou contra e teve a decência de censurar o CDS por querer pôr – e pôs – o Parlamento «de uma república laica a reconhecer a cura milagrosa das lesões do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, sofridas pelos salpicos do óleo de fritar o peixe, para o qual invocou a intercepção do beato Álvares Pereira».

Portugal não é um País, é um pântano onde medra a fé e a superstição, um protectorado do Vaticano onde faltam cidadãos e sobram crédulos, um sítio beato onde se treme com medo dos báculos, se ajoelha quando aparecem mitras e se afocinha à vista do anelão com ametista que ornamenta os dedos dos senhores bispos.

Que o CDS, nostálgico do salazarismo e da cumplicidade com a Igreja, proponha um voto de congratulação pela canonização de D. Nuno, compreende-se. Paulo Portas gosta de rastejar nas igrejas para mostrar aos eleitores que crê nas cambalhotas que o Sol deu na Cova da Iria, nas visões da Lúcia e no anjo que aterrou no anjódromo de Fátima.

Do Presidente da República, da sua débil cultura e do passado como primeiro-ministro, em que sancionou a censura d’O Evangelho segundo Jesus Cristo, de Saramago, feito pelo sub-ajudante de ministro, Sousa Lara, podia esperar-se o indecoroso regozijo, em nome de Portugal, mas do PSD é um ultraje à decência. Estariam os senhores deputados convencidos de que o olho da D. Guilhermina foi curado por um acto de corrupção divina feito pelo defunto D. Nuno?

Mas o mais indigno dos partidos foi o PS. Um partido republicano, laico e socialista que rasgou a sua tradição e se tornou cúmplice de uma burla pueril, perdeu a referência ética que o faz respeitável e ajoelhou-se com a D. Matilde Sousa Franco e a D. Maria do Rosário Carneiro, ornamentos pios, para colaborar numa farsa e fazer coro com os que garantem que D. Nuno passou de Condestável a curandeiro.

13 thoughts on “O Parlamento e a canonização de D. Nuno”
  • mathias

    No Brasil a situação é melhor, a igreja anda levanto uns tapas do Estado e da sociedade laica e civilizada. O presidente Lula distribuiu camisinhas durante o carnaval e criticou a reação do bispo católico por dizer inanidades misógenas.

  • MF1

    Por esta não esperava eu…
    Na própria Assembleia da República… acho que ficava melhor o nome de Assembleia dos Tolos.

  • Carpinteiro

    Há gente que enruga a cara quando eu escrevo, que estamos numa Teocracia mal disfarçada.
    Desiludam-se.

  • pedro

    uma vergonha!

  • Fantasma ateu

    Se não visse o recorte não acreditava!!! mas que raio de democracia e de republica é esta para estar a lavar os pés ao vaticano, e a uma fé que destruiu o nosso desenvolvimento social e científico!!!???? não é para isto que sou eleitor!! QUE VERGONHA!!!!! mas isto é ou não é um estado laico??? já não sei em que pensar… Felizmente a associação ateísta só tem a ganhar em denunciar esta miséria moral a que o País chegou.

  • Rasputine Saloio

    Completamente de acordo, agora estranho é que não tenha comentado a atitude hipócrita do PCP.

  • Carlos Esperança

    O PCP é o partido que mais se parece com uma Igreja.

  • Carpinteiro

    Vejamos a questão pelo lado menos cómico:

    Votamos em pessoas minimamente inteligentes (pensamos nós) que sabem fazer uso da razão (pensava eu).
    Num momento em que quase metade da população activa tem que sair do país, buscar a sua sobrevivência, estes mariolas deliciam-se no parlamento, a dar vivas a um cadáver! Se não fosse tão sério parecia uma anedota chapada.
    Mas que raio de gente é que nos (des)governa? É para estas tretas, que nós pagamos a estes figurões os vencimentos que auferem?
    Ao serviço de quem se encontram afinal estes fulanos?
    Na terra das “Madrastas de Bragança”, chamam-lhes; – os políticos da fêvera e garrafão. Eu acrescentaria: – e da hóstia.
    Fica-nos cara esta casta clerical que às nossas custas se governa,…demasiado cara….

  • MF1

    Se calhar quando acabarem as obras no Hemiciclo vão chamar o policarpo para atirar água…mas da benta.

  • Vulgar

    Quando ouvi o Paulo Rangel dizer numa rádio que a Igreja devia ter mais poder político, pensei que estivesse a brincar…afinal era a sério.

  • Veradictum

    Admirados desta postura anedótica e inacreditável dos nossos políticos???
    Ponham os pés no chão… o verdadeiro político português é aquele que é aldrabão, corrupto, cínico, demagogo, mas sempre a cheirar a água benta e bafio religioso da idade média…
    É que o povo a quem ele engana, ainda é muito crédulo e religioso!

  • Veradictum

    Admirados desta postura anedótica e inacreditável dos nossos políticos???
    Ponham os pés no chão… o verdadeiro político português é aquele que é aldrabão, corrupto, cínico, demagogo, mas sempre a cheirar a água benta e bafio religioso da idade média…
    É que o povo a quem ele engana, ainda é muito crédulo e religioso!

  • Veradictum

    Admirados desta postura anedótica e inacreditável dos nossos políticos???
    Ponham os pés no chão… o verdadeiro político português é aquele que é aldrabão, corrupto, cínico, demagogo, mas sempre a cheirar a água benta e bafio religioso da idade média…
    É que o povo a quem ele engana, ainda é muito crédulo e religioso!

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