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  • 10 de Fevereiro, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • AAP

A legitimidade do ateísmo

Há quem chame relativismo moral ao pluralismo ético das democracias. Hereges e apóstatas, que as religiões gostariam de submeter à pena capital, não passam de livres-pensadores, os primeiros, e limitam-se os últimos a exercer um direito de cidadania.

Claro que um Estado ateu é potencialmente tão perigoso como os confessionais. Entre o fascismo islâmico da Arábia Saudita ou o ateísmo soviético estalinista não há grandes diferenças. Por isso deve o Estado ser rigorosamente neutro, para permitir o legítimo direito à crença, à descrença e à anti-crença. A laicidade é condição sine qua non para qualquer democracia.

Se as religiões podem usar o espaço público para manifestações de fé não se vê razão para impedir ou dificultar igual tratamento aos simpatizantes de qualquer corrente filosófica ou opção ideológica não violenta.

A xenofobia, o racismo e a misoginia estão na origem do ódio sectário que ainda dilacera a humanidade e são taras que a civilização vai erradicando à medida que refreia o proselitismo que é o paradigma de todos os monoteísmos.

«Provavelmente Deus não existe. Então pare de se preocupar e desfrute a vida». Com este sábio conselho às pessoas aterrorizadas pelo Inferno, as associações ateístas têm atraído o ódio dos clérigos, a indignação dos crentes e a censura dos moralistas.

É tão legítimo integrar uma procissão em honra de um santo ou rezar novenas para implorar chuva como integrar um movimento ateísta. Difícil é compreender que uma peregrinação religiosa se realize «contra o ateísmo» em vez de a favor da fé, como aconteceu na peregrinação a Fátima, em 13 de Maio de 2008, presidida pelo cardeal Saraiva Martins.

Surpreende que a frase que sustenta a campanha que teve como mentor o notável biólogo Richard Dawkins tenha provocado tanto azedume e vocação censória. Ou a fé é débil ou forte a simpatia pelos autos de fé.

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) tem como objectivos:

1. Fazer conhecer o ateísmo como mundividência ética, filosófica e socialmente válida;
2. A representação dos legítimos interesses dos ateus, agnósticos e outras pessoas sem religião no exercício da cidadania democrática;
3. A promoção e a defesa da laicidade do Estado e da igualdade de todos os cidadãos independentemente da sua crença ou ausência de crença no sobrenatural;
4. A despreconceitualização do ateísmo na legislação e nos órgãos de comunicação social;
5. Responder às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.

Não parece vir daqui mal ao mundo. Quando me dizem que não há necessidade de uma associação com estes objectivos vem-me à memória o conselho da avó que me estremecia: «Filho, não te metas em política».

13 thoughts on “A legitimidade do ateísmo”
  • Joe

    Não vejo problema em um estado ateu….
    este clichê de Stalin pra desmerecer a idéia do estado ateu é apenas 1 paranóia difundida pela propaganda religiosa…. Este história de ateísmo soviético é uma invenção da mídia pra desmerecer os ateus!!! a URSS era 1 estado anticlerical…. apenas… lembremos que o clero russo foi cúmplice do czar.

    ….
    Por falar em detratores do estado ateu,eu poderia usar o argumento da Croácia Ustasha pra marginalizar os católicos…
    ou a África do Sul do apartheid pra marginalizar os protestantes….

    O estado ateu que defendo é aquele que corte as regalias das igrejas… e toda influência delas….. e que auxilie de alguma forma as pessoas sem crença….

    Lembremos que o estado ateu pode ser de esquerda ou até de direita….

    Não digo que o estado ateu deva “bater” nos religiosos (a menos que eles aprontem feio)…

    1 estado ateu é muito melhor que 1 teocrático….

  • elmano

    Não entendo esta fixação do CE no anti sovietismo militante e nesta idéia de que o estado soviético perseguiu a igreja.
    Discordo plenamente.
    Não se pode confundir anticlericalismo de alguns cidadãos com perseguição religiosa por parte do estado. O ódio da ICAR aos sovietes foi devido ao anticlericalismo de muitos cidadãos e à tolerância do estado para com a igreja ortodoxa.
    O anticlericalismo é fomentado pelo fundamentalismo das religiões. Eu próprio tenho de fazer um grande esforço para me manter tolerante com todas as seitas que, se pudessem, me estornicavam numa fogueira ou me assassinavam à pedrada.
    Em Portugal também houve anticlericalismo. Igrejas destruídas.
    E não houve nenhum Estaline na 1ª república.

  • Joe

    concordo, Elmano….
    Acho irônico a igreja romana se “solidarizar” com a ortodoxa…. o regime católico croata matou 1 milhão de ortodoxos sérvios, destruiu várias igrejas ortodoxas…
    os santos católicos ustashas chegaram promover assassinatos , estupros e roubos em massa dentro destas igrejas “heréticas”(na visão romana)… o massacre da igreja de Glina é só um exemplo….
    Outro caso de hipocrisia católica é quando disseram que Stalin masacrou ucranianos….
    pois bem,… os católicos omitem que a Polônia católica anexou a Galicia ucraniana em 1920 e promoveu 1 aculturação violenta dos ucranianos. Os ucranianos deveriam falar polonês e seguir o catolicismo…. Eles não aceitaram e sofreram 1 brutal massacre… com direito a igrejas depredadas….
    ou seja… o massacre de ucranianos na Galicia foi uma “pré-ustasha”….

  • Ricardo Alves

    O Estado soviético era totalmente contrário ao laicismo e à liberdade.
    O direito de formar uma associação religiosa, ou de praticar uma religião (dentro dos limites legais), não deve ser restringido. O comunismo do século 20 cometeu esse erro.

  • Joe

    URSS cometeu erros, mas não foi esta proibição de religião… a URSS teve desentendimento com a igreja pq esta foi aliada do czar e dos Brancos na guerra civil….

    Os estados inimigos do laicismo da liberdade religiosa são os teocráticos….
    Fato!
    O Vietnam do Sul era 1 teocracia católica dirigida por Ngo Dinh Diem… ele cometeu 1 erro grave… mandouproibir o budismo… num país 80% budista!!!
    resultado: caiu do poder!!!!!

  • centauro

    Alguns estados, erradamente ditos do comunismo, cometeram erros gravíssimos e até infantis, em relação às religiões… a todas as religiões, acrescento. O debate das ideias, que é fundamental, foi substituído por políticas estúpidas e, algumas delas, até profundamente reaccionárias. Por exemplo, na Albânia, em vez de se discutir e analisar o papel das religiões e a sua influência junto das populações, optou-se por encerrar as igrejas e proibir todos os rituais religiosos. Paralelamente, declarava-se o país ateu, como se o ateísmo se tornasse um facto, só porque tal tinha sido decretado. Resultado… não podendo rezar nas igrejas, as pessoas começaram a fazê-lo em casa, até porque eram profundamente religiosa… não nos esqueçamos que antes da Revolução, a Albania era uma monarquia extremamente conservadora…
    Claro que muitos outros erros foram cometidos… mas essa é outra história e este não é o local exacto para os discutir.

  • Joe

    ironicamente Hoxha era amigo de madre teresa…. depois dessa revelação tenho duvida se a Albânia era atéia.. assim…

    você fala do comunismo…
    pois bem… o “comunismo ateu” iugoslavo foi “+ benéfico” pra igreja ortodoxa do que o “nazismo católico croata” (ustasha)….
    Se Tito não derrotasse a Ustasha.. os ortodoxos iriam virar carne de abate na mão dos nazicatólicos de Pavelic…
    Irônico,não???

  • Jose Simoes

    “Ngo Dinh Diem… ele cometeu 1 erro grave… mandouproibir o budismo..”

    Isso não corresponde à verdade.

    José Simões

  • Joe

    Diem era católico intolerante… isso se deve à influência do irmão, o cardeal Pierre Martin Ngo Dinh Thuc

  • Jose Simoes

    “Ngo Dinh Diem… ele cometeu 1 erro grave… mandouproibir o budismo..”

    Isso não corresponde à verdade.

    José Simões

  • Joe

    Diem era católico intolerante… isso se deve à influência do irmão, o cardeal Pierre Martin Ngo Dinh Thuc

  • Jose Simoes

    “Ngo Dinh Diem… ele cometeu 1 erro grave… mandouproibir o budismo..”

    Isso não corresponde à verdade.

    José Simões

  • Joe

    Diem era católico intolerante… isso se deve à influência do irmão, o cardeal Pierre Martin Ngo Dinh Thuc

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