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Laicidade a menos. Opinião de um leitor

God bless America?

Por: Renato Soeiro

(Publicado em: O Gaiense, 24 de Janeiro de 2009)

Os EUA e o mundo chegaram ao fim de um pesadelo. Bush partiu, sem honra nem glória, detestado pelos seus e odiado pelo mundo.

O fim de um pesadelo não é necessariamente o início de um sonho. Mas é certamente o início de um novo ciclo, que não poderá ser pior do que o anterior.

O discurso inaugural de Obama, que o mundo ouviu com emoção e esperança, teve inúmeros aspectos positivos, absolutamente diferenciadores da retórica e da estratégia do seu antecessor. Embora tenha acabado mais ou menos com as mesmas palavras: “God bless the United States of America”.

Apesar de referir que “somos uma nação de cristãos e muçulmanos, de judeus, de hindus e de não-crentes”, apesar de apelar à unidade de todos os norte-americanos, o seu juramento foi feito sobre o livro sagrado de apenas uma daquelas religiões e o seu discurso esteve repleto de referências a Deus e às Escrituras. Até a igualdade e a liberdade foram referidas como dádivas de Deus, a fonte do chamamento para forjar um destino incerto.

Já antes do discurso do presidente, o controverso pastor evangélico Rick Warren tinha feito uma invocação usando citações judaicas e cristãs. E depois do seu discurso, o reverendo Joseph E. Lowery abençoou Obama com as suas palavras (no mais progressivo de todos os discursos da cerimónia, referindo mesmo a transformação dos tanques de guerra em tractores).

Foi Deus a mais para a sensibilidade política dos europeus, que não vêem com muito bons olhos esta mistura de política com religião, que tantos problemas continua a gerar no conflituoso mundo em que vivemos. Até porque, em princípio, se trata do mesmo Deus invocado por Bush em cada um dos seus discursos, nomeadamente naqueles em que fez as desastradas declarações de guerra que marcaram tragicamente o seu mandato. Invocado em vão, como se provou.

6 thoughts on “Laicidade a menos. Opinião de um leitor”
  • Daniel

    Obama parece ter boas idéias. É a favor do aborto, pesquisa com células tronco, é contra a guerra no Iraque, mas creio que nada disso faria diferença se ele não apelasse para o lado religioso dos americanos.
    Todos sabemos que se um político se declara ateu, sua carreira está acabada.

    Obama obviamente não é ateu, mas o fato de ele não ser um religioso fanático, já é uma evolução.

  • fredericocarpinteiro@sapo.pt

    Concordo plenamente, por momentos julguei estar a ouvir o padre Marcelo, em pouco mais de cinco minutos o homem foi buscar deus, quatro vezes, sem que eu conseguisse perceber para quê.
    Os homens cativos da fé tornam-se facilmente prosélitos.
    O cristianismo é seita que deu certo. A Igreja romana e demais igrejas cristãs adquiriram, ao longo dos séculos, prestígio histórico e o direito a manipular governos à sua vontade. Abre-se o caminho à irracionalidade, que leva a acreditar que, com a ajuda dos deuses, se poderá ser beneficiário de um milagre…
    Se por engano no lugar da Bíblia estivesse o Malleus Maleficarum (O Martelo dos Feiticeiros), ou o Directorium Inquisitorum ( Manual dos Inquizidores), qual seria a diferença?
    É lamentável registar a submissão do poder político, ao poder religioso.

  • Wlad

    sim, sim, talvez.
    mas creio que foi mais uma concessão de Obama ao estabelecido.
    ou seja, é possível hoje eleger um presidente negro com ascendência muçulmana, mas poucos países estão prontos a eleger um presidente assumidamente ateu.
    no brasil, FHC teve que citar o nome de deus e negar seu ateísmo, em nome de uma tal governabilidade.

  • amiltonsilva200809

    É, parece que as pessoas preferem um crente ladrão do que um ateu honesto.
    Não que eu ache o FHC honesto, pois tenho minhas dúvidas quanto a políticos em geral.

  • amiltonsilva200809

    É, parece que as pessoas preferem um crente ladrão do que um ateu honesto.
    Não que eu ache o FHC honesto, pois tenho minhas dúvidas quanto a políticos em geral.

  • amiltonsilva200809

    É, parece que as pessoas preferem um crente ladrão do que um ateu honesto.
    Não que eu ache o FHC honesto, pois tenho minhas dúvidas quanto a políticos em geral.

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