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  • 9 de Janeiro, 2009
  • Por Carlos Esperança
  • Religiões

A laicidade esquecida

Ontem o Diário de Notícias exibiu o arcebispo D. Armando, exorcista militante, que vive das consultas e faz exorcismos de borla (ou de burla). Claro que o exercício ilegal de medicina está sob a alçada da lei e a Ordem dos Médicos, que nunca processou os santos pelos milagres que obram, talvez por estarem mortos, pode e deve processá-lo.

Surpreendente é a posição do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, bispo de Braga, estabelecido com um negócio concorrente, afirmar que «se visse isso na minha diocese ia participar às autoridades competentes». Ora, o que o bispo de Braga afirma, para lá da deselegância para com o patriarca de Lisboa, é que há quem tenha direito a exorcizar (ele próprio) e quem careça de alvará legítimo.

Não sei como pode o Estado português pronunciar-se sobre habilitações que escapam às instituições de ensino legais e, sobretudo, como pode distinguir um exorcista verdadeiro de um falso. Há-de ser tão difícil como distinguir a água benta da outra.

Sabemos que o ministro da Defesa pediu a um bispo verdadeiro que lhe benzesse uma carreira de tiro e que o presidente da Comissão Europeia, depois de ter venerado Mao, na sua juventude, acabou a pedir «por amor de deus» que metessem o cristianismo na Constituição Europeia, em manifesta subserviência ao Papa, sabendo que a liberdade foi conquistada pelos que lutaram contra o poder temporal dos papas.

Como é que o Estado pode certificar qual é a religião verdadeira, a única que conduz ao Paraíso, sem se enredar nos difíceis meandros da teologia – a única ciência sem método nem objecto?

Por isso, a absoluta neutralidade do Estado é uma exigência ética e política, defendendo o direito de todos à crença, descrença ou anti-crença de cada um.

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