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  • 17 de Janeiro, 2008
  • Por Ricardo Alves
  • Ciência

O agnosticismo superficial

Há um certo agnosticismo superficial que os crentes tentam, por vezes, invocar a seu favor. Parte da premissa de que «a ciência não pode refutar a existência de Deus», se esse «Deus» encolher para dimensões deístas (iniciou o universo e remeteu-se à inactividade) ou ainda menores (existe fora de um universo que não criou mas que observa sem fazer nada). Tendo lidado com a contradição entre ciência e teologia dessa forma superficial, alguns crentes partem depois para uma defesa dos dogmas das religiões reveladas, ou, quando é a política que lhes interessa, para uma defesa dos valores morais mais ou menos reaccionários das igrejas tradicionais.

Acontece que da premissa de que a ciência tenha dificuldade em dizer algo sobre um «Deus» situado fora do universo não se segue, em primeiro lugar, que a religião tenha algo de válido a dizer sobre essa mesma hipótese. Em segundo lugar, ao agnosticismo face a um «Deus» indetectável deveria seguir-se uma equidistância face às diversas religiões com ele compatíveis, e até a oposição às religiões que se acham «reveladas» (para nada dizer dos respectivos valores morais).

No entanto, deve sublinhar-se que se os humanos criadores das diversas religiões reveladas tivessem inventado deuses meramente ausentes, e tranquilamente exteriores ao universo, jamais teriam tido sucesso. Esses deuses nunca teriam garantido as formas de relação com os falecidos que constituem o apelo maior comum a tantas religiões, ou os argumentos de autoridade que permitiram aos sacerdotes aliar-se aos poderes políticos. A crença no «Deus» ausente, no fundo, só serve mesmo para fins de credibilidade filosófica.

24 thoughts on “O agnosticismo superficial”
  • Alberto

    Vai tentando, filosofando, divagando e devaneando. Quando se esgotarem todas as tentativas, volte-se arrependido para O Seu Criador e peça-lhe o perdão com humildade. Há bastante perdão para todos que se arrependem.

  • Alberto

    Vai tentando, filosofando, divagando e devaneando. Quando se esgotarem todas as tentativas, volte-se arrependido para O Seu Criador e peça-lhe o perdão com humildade. Há bastante perdão para todos que se arrependem.

  • Luis Correia

    Volto a colocar aqui o meu comentário já tardio ao post “Areia santa. Milagre!!!” e pedindo desculpas por me repetir mas achei pertinente para o tema agora em discussão.

    Segue-se então o link e a tradução da conclusão de um artigo escrito por Sean M. Carroll com o título:

    «Porque é que quase todos os cosmólogos são ateus?»

    O artigo é bastante extenso mas vale a pena ler para ficarem ao corrente das diversas teorias científicas actuais acerca da origem do universo e a inutilidade da hipótese Deus como explicação da existência deste.

    http://preposterousuniverse.com/writings/nd-paper/

    «

    […]

    Conclusões:

    A questão que endereçamos é, “Pensando como bons cientistas e observando o mundo em que vivemos, é mais razoável concluir se é uma visão materialista ou uma visão teísta aquela que mais provávelmente fornecerá ultimamente uma descrição compreensiva do universo?” Embora eu não pense que mudei o pensamento de muitas pessoas, espero que o meu raciocínio tenha sido claro. Estamos perante um completo, coerente e simples entendimento da realidade. Dado o que sabemos acerca do universo, parece não haver qualquer razão para invocar Deus como parte desta descrição. Das várias formas em que Deus pudesse ser julgado uma hipótese útil – tal como a explicar as condições iniciais do universo, ou um determinado conjunto de campos e acoplamentos descoberto pela física das partículas – existem explicações alternativas que não requerem algo fora de uma descrição completamente formal e materialista. Sou portanto levado a concluir que adicionando a hipótese Deus apenas tornaria as coisas mais complicadas, e esta hipótese deverá ser rejeitada pelos padrões científicos. É uma conclusão venerável, actualizada pela cosmologia moderna; mas o diálogo entre as pessoas que pensam diferente continuará indubitávelmente por muito tempo.»

  • libre

    Há bastante perdão? O perdão é quantificável?
    Boa, já agora quanto custa o Kg? Ou é pago à unidade? Ao Litro?
    Já agora está só disponível nas grandes superficies ou também há à venda no mercado tradicional?

    Agora fugindo à comicidade já típica do Alberto, parabéns Ricardo pelo artigo. É muito fácil ver exemplos desse agnosticismo superficial de que fala, conheço muita gente que consegue dar o primeiro passo na busca da razão mas o simples facto de terem medo de avançar e não conseguirem ver por si sós uma concepção do mundo nova. Pode-se fazer uma analogia a alguém que passou toda a vida dentro de uma jaula e lhe abrem as portas para a liberdade, é bastante provável que tenha medo de enfrentar o mundo e se sinta inseguro por deixar algo que o prendeu mas que é a única coisa que conhece. (Um fenómeno que se verifica em muitos casos de pessoas que foram condenadas em idade jovem e que obtêm a liberdade já na velhice.)

    O que prende as pessoas não é a credibilidade e veracidade dos dogmas e mistérios religiosos, mas sim o medo de enfrentar algo novo, mais credível e que dá uma melhor resposta aos problemas, que se bem recebida poderá ajudar a que estes sejam ultrapassados, pelo menos mais que numa crença que oferece a resolução dos problemas mas nunca a dá. E também o medo de discriminação por parte de uma sociedade fundamentalista e conservadora.

  • Luis Correia

    Volto a colocar aqui o meu comentário já tardio ao post “Areia santa. Milagre!!!” e pedindo desculpas por me repetir mas achei pertinente para o tema agora em discussão.

    Segue-se então o link e a tradução da conclusão de um artigo escrito por Sean M. Carroll com o título:

    «Porque é que quase todos os cosmólogos são ateus?»

    O artigo é bastante extenso mas vale a pena ler para ficarem ao corrente das diversas teorias científicas actuais acerca da origem do universo e a inutilidade da hipótese Deus como explicação da existência deste.

    http://preposterousuniverse.com/writings/nd-paper/

    «

    […]

    Conclusões:

    A questão que endereçamos é, “Pensando como bons cientistas e observando o mundo em que vivemos, é mais razoável concluir se é uma visão materialista ou uma visão teísta aquela que mais provávelmente fornecerá ultimamente uma descrição compreensiva do universo?” Embora eu não pense que mudei o pensamento de muitas pessoas, espero que o meu raciocínio tenha sido claro. Estamos perante um completo, coerente e simples entendimento da realidade. Dado o que sabemos acerca do universo, parece não haver qualquer razão para invocar Deus como parte desta descrição. Das várias formas em que Deus pudesse ser julgado uma hipótese útil – tal como a explicar as condições iniciais do universo, ou um determinado conjunto de campos e acoplamentos descoberto pela física das partículas – existem explicações alternativas que não requerem algo fora de uma descrição completamente formal e materialista. Sou portanto levado a concluir que adicionando a hipótese Deus apenas tornaria as coisas mais complicadas, e esta hipótese deverá ser rejeitada pelos padrões científicos. É uma conclusão venerável, actualizada pela cosmologia moderna; mas o diálogo entre as pessoas que pensam diferente continuará indubitávelmente por muito tempo.»

  • libre

    Há bastante perdão? O perdão é quantificável?
    Boa, já agora quanto custa o Kg? Ou é pago à unidade? Ao Litro?
    Já agora está só disponível nas grandes superficies ou também há à venda no mercado tradicional?

    Agora fugindo à comicidade já típica do Alberto, parabéns Ricardo pelo artigo. É muito fácil ver exemplos desse agnosticismo superficial de que fala, conheço muita gente que consegue dar o primeiro passo na busca da razão mas o simples facto de terem medo de avançar e não conseguirem ver por si sós uma concepção do mundo nova. Pode-se fazer uma analogia a alguém que passou toda a vida dentro de uma jaula e lhe abrem as portas para a liberdade, é bastante provável que tenha medo de enfrentar o mundo e se sinta inseguro por deixar algo que o prendeu mas que é a única coisa que conhece. (Um fenómeno que se verifica em muitos casos de pessoas que foram condenadas em idade jovem e que obtêm a liberdade já na velhice.)

    O que prende as pessoas não é a credibilidade e veracidade dos dogmas e mistérios religiosos, mas sim o medo de enfrentar algo novo, mais credível e que dá uma melhor resposta aos problemas, que se bem recebida poderá ajudar a que estes sejam ultrapassados, pelo menos mais que numa crença que oferece a resolução dos problemas mas nunca a dá. E também o medo de discriminação por parte de uma sociedade fundamentalista e conservadora.

  • Ateu comunista bolivariano

    deus ausente…. sei… os crentes dizem q deus é poderoso e ajuda muito…
    quando alguém kestiona e pergunta: pq deus não impede tragédias? pobreza? etc. ae os crentes trocam logo de discurso… “deus kis”…”é a vontade de deus”, “deus sabe q faz” “deus não pode ajudar em tudo”

  • Ateu comunista bolivariano

    deus ausente…. sei… os crentes dizem q deus é poderoso e ajuda muito…
    quando alguém kestiona e pergunta: pq deus não impede tragédias? pobreza? etc. ae os crentes trocam logo de discurso… “deus kis”…”é a vontade de deus”, “deus sabe q faz” “deus não pode ajudar em tudo”

  • Nina the Cat

    Excelente artigo, Ricardo Alves.

  • Nina the Cat

    Excelente artigo, Ricardo Alves.

  • kavkaz

    A ditadura do Vaticano censura os livros de Harry Potter

    O pasquim “L’Osservatore Romano”, órgão oficial do Vaticano, atacou os livros de J.K. Rowling da saga de Harry Potter. O empregado do Rato Zinger, que escreveu o artigo acusador, afirmou que é perigoso para as crianças lerem tais livros, pois naqueles romances faz-se a propaganda da bruxaria e do ocultismo, como se o Vaticano nunca se tivesse dedicado a estas actividades. Sabemos que até prepara especialistas nessa área negocial por indicação do Papa Benz. Falam em tirar demónios do corpo e outras parvoíces muito católicas.

    O objectivo deles é censurar, proibir, esconder mais um dos muitos livros para que a cultura não se desenvolva e surjam novas expressões culturais que o Vaticano não consiga controlar. As ditaduras têm estes tiques de quererem mandar em tudo e amordaçar aqueles com quem não estão de acordo.

    A falsa argumentação de protegerem as crianças colide com a verdade dos factos de que estas ganharam um livro que gostam de ler, desenvolve a sua imaginação e criação. Muitas das crianças lêem, cheias de vontade esses livros até em língua estrangeira. O Rato Zinger não pede autorização aos pais das crianças para aconselhar os filhos deles. Dá indicações do que estes devem fazer para satisfazer a sua vontade de Grande Ditador.

    O Vaticano torna-se agressivo contra a escritora inglesa e contraria o anterior Papa João Paulo II que chegou a elogiar J.K. Rowling. Mais uma vez aparece um Papa a desdizer o Papa anterior. Qual dos dois é que está certo ? Ou estarão os dois errados ? Os crentes não se calem !

    http://www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2008/01/15/nharry115.xml

  • kavkaz

    A ditadura do Vaticano censura os livros de Harry Potter

    O pasquim “L’Osservatore Romano”, órgão oficial do Vaticano, atacou os livros de J.K. Rowling da saga de Harry Potter. O empregado do Rato Zinger, que escreveu o artigo acusador, afirmou que é perigoso para as crianças lerem tais livros, pois naqueles romances faz-se a propaganda da bruxaria e do ocultismo, como se o Vaticano nunca se tivesse dedicado a estas actividades. Sabemos que até prepara especialistas nessa área negocial por indicação do Papa Benz. Falam em tirar demónios do corpo e outras parvoíces muito católicas.

    O objectivo deles é censurar, proibir, esconder mais um dos muitos livros para que a cultura não se desenvolva e surjam novas expressões culturais que o Vaticano não consiga controlar. As ditaduras têm estes tiques de quererem mandar em tudo e amordaçar aqueles com quem não estão de acordo.

    A falsa argumentação de protegerem as crianças colide com a verdade dos factos de que estas ganharam um livro que gostam de ler, desenvolve a sua imaginação e criação. Muitas das crianças lêem, cheias de vontade esses livros até em língua estrangeira. O Rato Zinger não pede autorização aos pais das crianças para aconselhar os filhos deles. Dá indicações do que estes devem fazer para satisfazer a sua vontade de Grande Ditador.

    O Vaticano torna-se agressivo contra a escritora inglesa e contraria o anterior Papa João Paulo II que chegou a elogiar J.K. Rowling. Mais uma vez aparece um Papa a desdizer o Papa anterior. Qual dos dois é que está certo ? Ou estarão os dois errados ? Os crentes não se calem !

    http://www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2008/01/15/nharry115.xml

  • Alberto

    Tolos se contentam com respostas tolas para perguntas tolas. Inventam explicações tolas para o que desconhecem, Confortam-se uns aos outros manifestando aprovação às suas tolices.

  • Alberto

    Tolos se contentam com respostas tolas para perguntas tolas. Inventam explicações tolas para o que desconhecem, Confortam-se uns aos outros manifestando aprovação às suas tolices.

  • kavkaz

    Alberto

    O sabichão atrasado mental !

  • kavkaz

    Alberto

    O sabichão atrasado mental !

  • Alberto

    Amabilidade e gentileza podem colocar uma pessoa medíocre num plano superior; indiferença e desinteresse podem colocar uma pessoa superior numa posição medíocre.

  • Alberto

    Amabilidade e gentileza podem colocar uma pessoa medíocre num plano superior; indiferença e desinteresse podem colocar uma pessoa superior numa posição medíocre.

  • kavkaz

    O medíocre é o Alberto !

    Se achas que estás no plano superior deve ser por causa do mandar “chupar” !

    Emplastro ! Já deixaste no DA hoje duas mijadinhas inúteis e fedorentas ! Marcaste bem o teu lugar ?

    http://www.paulopires.com/video/?tag=Emplastro

  • kavkaz

    O medíocre é o Alberto !

    Se achas que estás no plano superior deve ser por causa do mandar “chupar” !

    Emplastro ! Já deixaste no DA hoje duas mijadinhas inúteis e fedorentas ! Marcaste bem o teu lugar ?

    http://www.paulopires.com/video/?tag=Emplastro

  • Alberto

    Por hoje está bom. Já causa baixas nas fileiras atônitas.

  • Alberto

    Por hoje está bom. Já causa baixas nas fileiras atônitas.

  • Abrasivus

    Excelente análise Ricardo Alves,

    Com efeito um deus ausente e indiferente aos nossos anseios, na práitca não serve para nada para além de algum conforto filosófico.

    A postura deísta, acaba por não ser popular, exactamente por não possuir recompensas imediatas no dia a dia.
    Rezar, não serve para nada, e lá se vai o negócio.
    E como a questão de ir ou não ir para o céu é basicamente uma relação negocial com a divindade – «ou estás quietinho, ou levas no focinho», toda a gente prefere a versão interventiva a torto e a direito com todos os seus arabescos.

    O que penso ser inexplicável, é algum argumentário por vezes utilizado pelos crentes – mesmo deístas – do tipo:
    – A existência de «Deus» é demonstrada racionalmente por teses teológicas fundamentadas em princípios filosóficos irrefutáveis. E um ateu que se preze, terá que demonstrar a não existência de «Deus» através das mesmas ferramentas necessitando pois de conhecer todas as estruturas e conteúdos de todas as teses teológicas que existem sobre o tema, para as poder rebater ponto por ponto.

    Para além da velha questão da inversão do ónus da prova que é ridícula, os crentes esquecem-se de justificar porque é que aceitam crentes ignorantes de todas as mesmas teses teológicas e filosóficas.

    Resumindo:
    Para ser crente, basta ser ignorante.
    Para ser ateu, temos de dominar toda a filosofia e teologia para justicar as nossas posições de princípio.

    Há pachorra?

  • Abrasivus

    Excelente análise Ricardo Alves,

    Com efeito um deus ausente e indiferente aos nossos anseios, na práitca não serve para nada para além de algum conforto filosófico.

    A postura deísta, acaba por não ser popular, exactamente por não possuir recompensas imediatas no dia a dia.
    Rezar, não serve para nada, e lá se vai o negócio.
    E como a questão de ir ou não ir para o céu é basicamente uma relação negocial com a divindade – «ou estás quietinho, ou levas no focinho», toda a gente prefere a versão interventiva a torto e a direito com todos os seus arabescos.

    O que penso ser inexplicável, é algum argumentário por vezes utilizado pelos crentes – mesmo deístas – do tipo:
    – A existência de «Deus» é demonstrada racionalmente por teses teológicas fundamentadas em princípios filosóficos irrefutáveis. E um ateu que se preze, terá que demonstrar a não existência de «Deus» através das mesmas ferramentas necessitando pois de conhecer todas as estruturas e conteúdos de todas as teses teológicas que existem sobre o tema, para as poder rebater ponto por ponto.

    Para além da velha questão da inversão do ónus da prova que é ridícula, os crentes esquecem-se de justificar porque é que aceitam crentes ignorantes de todas as mesmas teses teológicas e filosóficas.

    Resumindo:
    Para ser crente, basta ser ignorante.
    Para ser ateu, temos de dominar toda a filosofia e teologia para justicar as nossas posições de princípio.

    Há pachorra?

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