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Um Mal Menor

Segundo o «Independent», a Igreja Católica poderá estar próxima de uma mudança histórica na sua atitude perante o uso do preservativo, «o que poderá trazer uma nova esperança para milhões de pessoas» de países subdesenvolvidos actualmente devastados pela SIDA.

Um responsável do Vaticano declarou mesmo que está a ser conduzido «um estudo científico, técnico e moral muito profundo».

Mas atenção:

A ser aberta uma excepção o uso do preservativo só será permitido para casais devidamente unidos pelo matrimónio católico, e em que um deles, ou ambos, estejam infectados com o vírus do HIV.
Nesta situação a Igreja Católica poderá vir a considerar o uso do preservativo «um mal menor».

Para os restantes casos não serão abertas excepções!

Ora bem:
Não quero aqui falar da interessantíssima forma como a Igreja, da escuridão fria dos corredores do Vaticano, continua a encarar a mulher e, sem sequer se aperceber daquilo que diz, declara com a certeza de um especialista na matéria: «se a sobrevivência de uma mulher estiver ameaçada pelos avanços sexuais do marido, ela terá a justificação de se defender a si própria, persuadindo o homem a usar um preservativo».
Absolutamente notável!

Também não quero falar da estupidez de uma instituição religiosa que nem sequer com os seus próprios erros aprende: ora queima Giordano Bruno ou excomunga Galileu, ora lhes pede desculpa séculos mais tarde.

Nem sequer da imbecilidade despropositada de meia dúzia de cretinos que se arrogam o direito de determinar a vida das pessoas – católicos e não católicos – e de friamente influenciar por esse mundo fora a sua vida e a sua morte.

Nem sequer quero falar do próprio reconhecimento de que a simples mudança da política da Igreja Católica perante o preservativo «poderia trazer uma nova esperança a milhões de pessoas», num planeta que conta já com 40 milhões de infectados e com 13.000 novas infecções todos os dias.

Mas é interessante realçar que para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, e para os nababos de saias que vivem à sua sombra, os dogmas religiosos e uma encíclica anacrónica e imbecil continuam a ser mais importantes que as vidas dos milhões de seres humanos que «os restantes casos» não abrangidos pela «excepção» ainda representam.

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

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