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O passeio da boneca

Hoje, haverá uma festa em Lisboa tendo como figura central uma boneca de louça com uma coroa de ouro. Segundo os líderes da corporação que organiza o culto deste e de outros objectos (a ICAR), a boneca que se encontra habitualmente no concelho de Ourém pernoita nas Avenidas Novas, de onde sairá às 17 horas com destino à Praça dos Restauradores, local onde a festa culminará numa, assim chamada, «Consagração de Lisboa a Nossa Senhora de Fátima».

Ingenuamente, pode perguntar-se quando e como os lisboetas deram autorização aos líderes locais da ICAR para «consagrarem» a cidade a uma boneca qualquer? Que se saiba, não houve votação alguma, os munícipes não foram consultados, e os ditos líderes religiosos nem pelos seus seguidores são eleitos: são nomeados por uma organização internacional com sede em Roma. Sendo assim, seria mais correcto «consagrar» a boneca (a «Senhora» que é deles e não nossa) a Lisboa, e não o contrário! Porque fala então a porção católica dos lisboetas em nome de Lisboa? A resposta (óbvia) é que se pretende justamente fingir que todos os lisboetas são católicos!

É portanto imperativo assinalar que a ICAR escolheu falar em nome de uma cidade onde a percentagem de habitantes que praticam o catolicismo num dado Domingo é sensivelmente a mesma do que a percentagem de pessoas sem religião declaradas como tal ao censo de 2001; onde, em 2003, 42% das crianças nasceram de pais que não estavam casados (nem sequer pelo registo civil); e numa região (a de Lisboa e Vale do Tejo) onde, no mesmo ano, a maioria dos casamentos celebrados (51%) foram-no pelo registo civil e não no altar onde o poder clerical se afirma. Pode concluir-se que os lisboetas e os seus vizinhos já abandonaram a ICAR como referência, e que o acto de hoje, como as tentativas de proselitar nos centros comerciais nos últimos dias, são acções desesperadas de quem já não consegue a atenção da população mas ainda detém o favor das instituições.

Devemos aos esforços de homens livres como Alexandre Herculano, Afonso Costa, Emídio Guerreiro e os militares do MFA, o vivermos numa sociedade em que qualquer um se pode manifestar, inclusivamente aqueles que almejam destruir a liberdade (caso dos que se manifestaram no Martim Moniz há alguns meses) ou estes que desejariam voltar aos tempos (para eles, saudosos) em que não havia liberdade porque o poder civil estava submetido ao clero, e que agora nos atrofiam com opiniões teológicas sobre questões terrenas. É ainda lamentável que a televisão que é pública, e portanto de todos, colabore. É sem dúvida estranho que a Avenida da Liberdade fique entregue, nem que seja por algumas horas, a quem atropela a liberdade humana invocando a autoridade divina. Todavia, há que ser tolerante com os católicos, ainda que com a certeza de que eles jamais o serão connosco.
8 thoughts on “O passeio da boneca”
  • timshel

    “há que ser tolerante com os católicos, ainda que com a certeza de que eles jamais o serão connosco”

    o vosso problema é terem certezas a mais

  • timshel

    “há que ser tolerante com os católicos, ainda que com a certeza de que eles jamais o serão connosco”o vosso problema é terem certezas a mais

  • Lua dos Açores

    Tenho um amigo, que prezo muito, senão não seria meu amigo, que me envia, penso, que todos os teus ( desculpa a sem cerimónia) posts. Comfesso que não leio todos, sou preguiçosa… Sou um ser humano contraditório, como convem a qq um de nós: católica comunista…assumida e consciente. Algumas das tuas opiniões chocam-me…outras nem tanto. Mas há questões que levantas que eu subscreveria se não fosse a forma usada. Há “coisas” que nós Católicos fazemos que serão indubitavelmente puro “folclore” e que nada têm de essencial em termos de Fé. As imagens, como as fotos da minha avó que eu amei e cuja lembrança me acompanha a cada dia, servem para que nos lembremos que houve e há gente como nós, que estiveram perto da perfeição e que essa perfeição é possível. Maria foi como tu e eu um ser humano limitado, e que disse sim a um projecto, um sim (FIAT)confiante…às cegas, porque ela intuia que mesmo não conhecendo, não entendendo, havia qq coisa para além da sua vidinha de mulher, abaixo de cão da Judeia, que seria TUDO para toda a humanidade, o absoluto, o AMOR sem questionamento de quem és, do o que fazes e do onde vens. Eu creio que todos esperamos e queremos que esse amor exista. Pelos excluidos, pelos não amador, por nós mesmos, solitários deste mundo cada vez mais anónimo. Maria foia e é a mulher que confiou e se entregou a um projecto: de ser a Mãe daquele que é o filho do amor supremo, do amor que se fez um de nós para expulsar os vendilhões e fazer-se certeza no Pai do Filho Pródigo: todos temos espaço no colo do Pai, todos podemos e devemos voltar, como eu voltei, e sentir o acolhimento, o calor de sermos recebidos sem reservas nesse colo….o resto??? o que é o resto? Somos humanos: Inquisição, Cruzadas, a Fátima das velas, dos joelhos macerados nos chãos da vida…
    Abraça-me Pai, faz-me ver o teu rosto no rosto dos excluidos. Que eu te ame neles.
    Amen

  • Lua dos Açores

    Tenho um amigo, que prezo muito, senão não seria meu amigo, que me envia, penso, que todos os teus ( desculpa a sem cerimónia) posts. Comfesso que não leio todos, sou preguiçosa… Sou um ser humano contraditório, como convem a qq um de nós: católica comunista…assumida e consciente. Algumas das tuas opiniões chocam-me…outras nem tanto. Mas há questões que levantas que eu subscreveria se não fosse a forma usada. Há “coisas” que nós Católicos fazemos que serão indubitavelmente puro “folclore” e que nada têm de essencial em termos de Fé. As imagens, como as fotos da minha avó que eu amei e cuja lembrança me acompanha a cada dia, servem para que nos lembremos que houve e há gente como nós, que estiveram perto da perfeição e que essa perfeição é possível. Maria foi como tu e eu um ser humano limitado, e que disse sim a um projecto, um sim (FIAT)confiante…às cegas, porque ela intuia que mesmo não conhecendo, não entendendo, havia qq coisa para além da sua vidinha de mulher, abaixo de cão da Judeia, que seria TUDO para toda a humanidade, o absoluto, o AMOR sem questionamento de quem és, do o que fazes e do onde vens. Eu creio que todos esperamos e queremos que esse amor exista. Pelos excluidos, pelos não amador, por nós mesmos, solitários deste mundo cada vez mais anónimo. Maria foia e é a mulher que confiou e se entregou a um projecto: de ser a Mãe daquele que é o filho do amor supremo, do amor que se fez um de nós para expulsar os vendilhões e fazer-se certeza no Pai do Filho Pródigo: todos temos espaço no colo do Pai, todos podemos e devemos voltar, como eu voltei, e sentir o acolhimento, o calor de sermos recebidos sem reservas nesse colo….o resto??? o que é o resto? Somos humanos: Inquisição, Cruzadas, a Fátima das velas, dos joelhos macerados nos chãos da vida…Abraça-me Pai, faz-me ver o teu rosto no rosto dos excluidos. Que eu te ame neles.Amen

  • Ricardo Alves

    Timóteo,
    recebo regularmente provas daquilo que afirmo. Por exemplo, lembro-de de uma pessoa que há alguns meses, de forma caricata, me acusou de comer crianças.

  • Ricardo Alves

    Timóteo,recebo regularmente provas daquilo que afirmo. Por exemplo, lembro-de de uma pessoa que há alguns meses, de forma caricata, me acusou de comer crianças.

  • Ricardo Alves

    Cara «Lua dos Açores»,
    não te conheço mas garanto-te defendo o teu direito a acreditares no que entenderes e a difundir a tua fé. Agora, não me peças que fique calado quanto àquilo em que acredito. A «imagem» da «virgem Maria», para mim, é apenas uma boneca de louça. Se quiseres ver algo mais nela, tens todo o teu direito. Mas não me peças para fingir que vejo o mesmo que tu, até porque não quero mentir.
    Cumprimentos,

  • Ricardo Alves

    Cara «Lua dos Açores»,não te conheço mas garanto-te defendo o teu direito a acreditares no que entenderes e a difundir a tua fé. Agora, não me peças que fique calado quanto àquilo em que acredito. A «imagem» da «virgem Maria», para mim, é apenas uma boneca de louça. Se quiseres ver algo mais nela, tens todo o teu direito. Mas não me peças para fingir que vejo o mesmo que tu, até porque não quero mentir.Cumprimentos,

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