Loading

Ainda o princípio antrópico, II: a posição «cientificamente correcta»

«Na sua versão «forte» o Princípio Antrópico diz o seguinte: O Universo é tal que:

1) Necessariamente leva ao aparecimento da Vida e da Vida inteligente;

2) Uma vez surgida a Vida inteligente, esta prosseguirá a sua evolução sem nunca desaparecer.

Dito de outra maneira: a Vida inteligente é como que um feto do Universo (implantado talvez por Deus) que se irá desenvolvendo de forma harmoniosa… E não há aborto, voluntário ou não, possível.

À primeira vista, esta tese não parece muito convincente. De facto sabemos que muitas espécies têm desaparecido (os dinossauros constituindo o caso mais espectacular). Os humanos, esses estariam condenados a não desaparecer…

Por um lado, se a Humanidade – a nossa Humanidadezinha – continuar com os pés na Terra, certamente que desaparecerá. Isto porque o Sol, fonte de vida, da energia e da nega-Entropia, é, como todas as estrelas, uma estrela condenada. Condenada a gastar o seu (abençoado) combustível nuclear até à exaustão.

Por outro lado, a Humanidade construiu armas poderosas- bombas nucleares capazes de levar a uma autodestruição. Por que é que tal não aconteceu, em particular nos anos quentes da guerra fria? Será que Kennedy e Kruchov ou Reagan e Bresnev tinham uma protecção (divina) que travava os seus instintos destruidores?

Mais uma vez aparece a pescadinha a querer meter o rabo na boca. Será pelo facto de haver um princípio teleológico que a Humanidade existe, ou será exactamente o contrário: porque a Humanidade existe inventou-se um princípio teleológico?

Em conclusão: a posição «cientificamente correcta» – a posição cc – parece continuar a ser a de Monod e Weinberg: somos fruto do acaso e da necessidade, nada mais há para além disso.

Naturalmente que todos temos o direito – e talvez o dever -, como Einstein, de nos deslumbrarmos, encantarmos, comovermos com o milagre do Universo e da Vida.

Haverá mesmo, talvez, irredutibilidade das questões de Gauguin (donde viemos, onde estamos, para onde vamos) a um tratamento estritamente científico. A razão poderá ter a ver com a impossibilidade que temos de responder a questões mais globais que se colocam na teoria. A questão do Nós e o Cosmos poderá ser uma questão meta-científica no sentido do teorema de Gödel. Por palavras simples: não se pode explicar tudo. Não pode haver teoria explicativa completa!

Termino com uma citação de Max Planck, o Físico dos Quanta, do fim do século XIX e do começo do século XX:

«A Ciência não pode resolver o mistério final da Natureza. Isto porque, em última análise, nós próprios somos parte do mistério que tentamos resolver»

Eu penso que Gödel não teria dito melhor!»

You must be logged in to post a comment.